Quem conta um conto #21 Adeus
- Adeus!
Disse batendo a porta sem olhar para trás, ignorando o facto de Maria sufocar com as suas próprias lágrimas. Maria sabia que as coisas não estavam como antes, que Luís já não a olhava como antes, nem a abraçava como antes, mas ainda assim e sem explicar o motivo, Maria foi apanhada desprevenida, não contava com o fim daquela relação que não sendo muito antiga, era suficientemente longa para ela acreditar que ficariam juntos para sempre, suficientemente longa para acreditar que o seu peito era a sua casa e que aqueles braços segurariam a família que imaginava que juntos iriam construir.
Conheciam-se há bastante tempo, apesar da relação ser recente. A vida apresentou-os sem intenção de os juntar, mas com as voltas das voltas que a vida dá, os seus caminhos cruzaram-se e apesar de terem vários fatores em contra, Luís fez-lhe garantir que poderiam ser felizes, que ele seria o seu porto seguro e que com ele, Maria nunca se sentiria só. Maria sentia-se enganada, traída, sentia que Luís lhe tinha mentido. Ela estava só, mais só do que nunca, ainda mais só do que quando Luís a resgatou dos despojos da anterior relação. Naquele momento Maria ficou confusa, não sabia se o amava ou se o odiava pela frieza, pelo desprendimento, pelas falsas expectativas que ao longo do tempo lhe criou.
Luís bateu a porta e sentiu-se aliviado. Tirou dos ombros o peso que aquela relação lhe criava. Há muito que não era feliz, ainda que não soubesse justificar o motivo, já que Maria foi em tempos aquilo que ele sempre tinha desejado. Teria Maria mudado? Sim, Maria mudou bastante ao longo do tempo, mas para melhor, garantiu-lhe Luís, mas ainda assim o peso da rotina tirou-lhe o brilho e o encanto com que a olhava. Sentia-se preso, sentia que a sua vida já não lhe pertencia, mas sim à relação que não queria ter. Luís nunca tinha querido compromissos, enganou-se achando que com Maria poderia ser feliz mas percebeu com o tempo que a sua liberdade era o que mais o fazia feliz. Luís não era livre com Maria? Era. Mas não o suficiente. Queria mais.
Com o tempo Maria foi superando a dor, aos poucos as lágrimas secaram, as amigas permanentemente em contacto tiravam-na de casa, da escuridão em que se queria esconder e substituíram as lágrimas salgadas pelos sorrisos doces.
Por sua vez, Luís começou a sentir-se sozinho. Relembrou o motivo de ter querido Maria na sua vida, lembrou-se de como Maria preenchia o vazio do silêncio e o vazio da sua enorme cama. Lembrou-se do seu sorriso contagiante e do olhar grande e expressivo que sempre a denunciava. Lembrou-se porque a Maria era diferente e do motivo que o fez passar um ano a seu lado.
Quis voltar a tentar.
Convidou-a para sair. Maria não respondeu. Bateu à sua porta, queria falar-lhe, contar-lhe de como se sentia... Maria abriu e viu-o despedaçado, sentiu as lágrimas a querem correr pela sua face, queria abraça-lo, beijá-lo pedir-lhe que nunca mais a abandonasse. Mas depois lembrou-se de tudo o que passou com o abandono, com a porta que se fechou e que não a amparou. Queria dizer-lhe que ainda o amava, mas apenas lhe saiu:
- Adeus!
E bateu a porta atrás de si, ignorando o facto de Luís sufocar com as suas próprias lágrimas de dor.