Quem conta um conto # 8 À tua espera! - Parte III
Lembram-se do conto À tua espera? Pois muito bem, desafiada aqui pela Mula, a Língua Afiada, deu continuidade ao conto e eu a pensar que ela iria salvar o meu fim, emaranhou-me a história toda e passou-me a pena... Então e agora?
Agora podem acompanhar o desenvolvimento neste mesmo preciso local.
À tua espera! - Parte III
Vendo a química que existia entre Ísis e André, Ricardo aproximou-se dos dois, e interrompendo a conversa animada pergunta.
"Vocês já se conheciam?" pergunta desconfiado.
"Não!" responderam em uníssono. Rindo-se de seguida.
"O teu irmão contava-me sobre a vida em Paris... e..." gaguejava atrapalhada.
"Oh! Ele só quer saber da boa vida, Ísis, não deves ligar aos seus disparates", corta Ricardo de modo arrogante, aborrecendo André, que virou simplesmente as costas deixando-o a falar sozinho.
"Nunca me tinhas dito que tinhas um irmão..." diz aborrecida pelo desagrado provocado. "Quero ir embora, Ricardo! Levas-me a casa?" acrescenta.
"Chamo-te um táxi. Pareces aborrecida e não me apetece discutir!" remata.
Ísis apanhou um táxi, mas antes de ir embora, com o pretexto de se despedir do irmão e lhe pedir desculpa por todo o mal-estar causado, coloca-lhe no bolso um pedaço de guardanapo com a seguinte inscrição: "Nem sabes o que esperei por este momento..." seguido do seu número de telemóvel.
Ísis sentia-se confusa. Se por um lado estava feliz por finalmente reencontrar o moço de olhos verdes do comboio, por outro lado sentia-se suja, não por sentir desejo por ele, mas por ser comprometida com o seu irmão. Todos estes pensamentos e sentimentos confusos até a fizeram esquecer que Ricardo a fizera passar pela situação de vir de Lisboa até às Caldas da Rainha de táxi, com um desconhecido, sabendo o quanto ela odiava andar de táxi. Sentiu acima de tudo um enorme alívio por viajar sozinha, por não ter de olhar nos olhos de Ricardo e mentir-lhe. Por não ter de o ouvir dizer o quanto a amava, quando ela na realidade não sentia o mesmo. Sentia que não estava correcto, que tinha acabado de conhecer a família dele, mas que não podia traí-lo, que ele não merecia ser traído, que apesar de ao longo dos meses que passaram juntos se ter revelado orgulhoso e arrogante, ela sabia que ele sempre fizera de tudo para que ela se sentisse bem. Não, Ricardo amava-a verdadeiramente e não merecia ser traído. Ísis tinha de tomar uma atitude. Mesmo que André não quisesse nada com ela, só os sentimentos que ela nutria por esta paixão antiga, já eram traição. Decidiu assim colocar um ponto final na relação com o Ricardo.
Ísis passou a noite a olhar para o telemóvel, mas André não lhe ligara. "Não deve ter visto a mensagem..." dizia o seu lado mais emocional. "Foste uma tola Ísis, ele tem a sua vida, ele não sente o mesmo..." dizia o seu lado mais consciente. Fecha os seus olhos e adormece, cansada, na esperança de amanhã o dia lhe trazer mais clareza e um novo alento.
No dia seguinte, arrependido por não a ter trazido a casa, Ricardo vai até à casa de Ísis com um gigante ramo de flores de girassóis - as suas preferidas - e quando ela tenta explicar-lhe que a relação não pode continuar, e que quer acabar, ele silencia-a e ajoelhando-se, retira do bolso uma pequena caixa aveludada que abre cuidadosamente. No seu interior, um lindo anel de ouro branco empregando no centro uma brilhante safira, fizeram Ísis petrificar. Na sua cabeça, apenas uma frase ecoava "não... não... isto não pode estar a acontecer!" até que uma lágrima lhe escorre pela face pálida. Ricardo, julgando-a emocionada com o pedido - que no fundo até estava - não espera pela resposta e sem demoras lhe coloca o anel no anelar esquerdo, gelado, como o seu coração se encontrava naquele momento.
Ricardo beija-a com carinho, e despede-se dizendo que apenas foi lá para lhe dar este miminho mas que precisava de ir trabalhar. Ísis longe de imaginar que este pedido surgiria tão cedo, ficou em estado de choque e não consegue terminar a relação com Ricardo. Despede-se dele carinhosamente com uma festa no rosto, e assim que a porta se fecha cai desesperada no chão, culpando-se pela cobardia, por toda a situação em que se estava a colocar. Nesse preciso momento a campainha toca. Olha para a mesa e percebe que Ricardo se esquecera do seu telemóvel em cima da mesa. Recompõem-se para que este não perceba o seu desespero e abre a porta sem demoras.
"Mas... tu!? Como é que sabias onde eu..." diz atónita com o que lhe estava acontecer.
André, que esperara à entrada do prédio que o seu irmão saísse, entra de rompante e beija-a apaixonadamente, sem antes proferir qualquer palavra, sem qualquer recusa por parte de Ísis. Todo o corpo da moça que acordava todas as manhãs à procura do seu moço de jeans e olhos verdes, estava ali, entregue àquela paixão impossível de recusar. Sonhara com aquele momento, vezes sem conta, meses a fio. Não tinha como o afastar. Desejava-o como nunca desejara alguém anteriormente. No fundo, amava-o sem sequer o conhecer. E é ali, na entrada de sua casa, que descobrem novamente a felicidade. Entre lágrimas e beijos e tentativas de explicação e...
"Mas o que é isto?!" - Diz Ricardo, enquanto num relance soca André, que acaba estendido no chão inanimado.
E então, minha querida Fatia Mor, és menina para me descalçar esta bota? Posso passar-te a pena, ou preferes o antiguinho lápis da Faber-Castell?