Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte VI
Tudo começou com um simples conto, pequeno, com um princípio, um meio e um fim. Desafiei a Língua mais Afiada do Sapo - que teremos o prazer de conhecer melhor na sexta-feira, na rubrica Na Cama com da nossa querida Fatia Mor - a dar seguimento ao conto e a mesma aceitou. Desde então que o conto tem sido escrito e reescrito por três maravilhosas pseudo-bloguers e a salada russa instalou-se. Pobre Ísis - e agora que penso nisso, que raio de nome lhe fui dar... ainda vai ser exterminada por um avião russo! - que desde que lhe andam a mexer e a remexer na vida nunca mais teve descanso.
Podem ver os capítulos anteriores aqui:
- Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte I
- Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte II
- Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte III
- Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte IV
- Quem conta um conto #8 - À tua espera - Parte V
Ísis acorda já no hospital com Ricardo ao lado dela agarrando-lhe a mão, carregado de preocupação. Entretanto entra o médico e confirmando que Ricardo era apenas um amigo, pede-lhe para sair para falar com Ísis.
- Temo que vá dar-lhe uma má notícia.
- Diga doutor...
- Temo que vá ter de abrandar o ritmo que a sua gravidez é de risco.
- Qual gravidez, doutor? Deve existir algum engano, eu não estou...
- Está grávida de 7 semanas e arrisca-se a perder o bebé.
- Mas... - remata baralhada - eu continuo com menstruação regular, eu não...
- Às vezes acontece. Deve abrandar o ritmo. A menos que queira pensar noutras hipóteses, está dentro das 10 semanas... Se quiser marco-lhe uma consulta com a psicóloga para a ajudar a tomar uma decisão.
- Não! Nunca colocaria essa hipótese!
- É como quiser, agora vou deixa-la descansar, e já sabe, nada de esforços nem stress, se quer que este filho nasça saudável vai ter de começar a pensar nele. Quer que ligue a alguém?
- Não, doutor, obrigada.
Com a saída do médico, Ricardo entra ansioso para perceber o que se passa.
- Que tens Ísis? Estás bem? É alguma coisa grave?
- Calma Ricardo, pára lá com tanta pergunta... Está tudo bem, é só stress. Tive uma crise de ansiedade e isto já passa, nada que uns dias de repouso não resolvam. - tranquiliza-o.
Ísis não podia simplesmente contar a verdade, precisaria primeiro de perceber o que iria fazer. Quando dois dias depois recebeu alta, foi para casa descansar. Mais relaxada e com um novo objectivo de vida olhou para a sua vida dos últimos anos. Pensou em tudo o que lhe tinha acontecido. Pensou em André e não conseguia perdoar a desilusão que este fora, não compreendia como é que em pleno século XXI um filho ainda poderia ser motivo de amarração de um casal e como tal, decidiu não lhe contar. Ainda pensou que até poderia ser uma maneira de ele poder reconsiderar e ficar com ela, mas não, ela não lhe iria pedir uma coisa dessas, não se iria humilhar por um homem que já provou não a merecer. Olhou para a sua vida e concluiu que precisava de um novo recomeço. Liga a Patrícia para contar a novidade.
- Como vais para Londres? - inquire Patrícia admirada - Assim de repente?
- Não é assim de repente, Patrícia... Sabes perfeitamente que sempre tive essa vontade. Lá há mais oportunidades e lá na redacção já não me motiva. Preciso de algo mais desafiador. - disfarça.
- Ísis, o que tu estás a fazer é FUGIR! Tu estás a fugir, não estás a tomar uma atitude sensata, com consciência, não podes largar toda a tua vida, tudo o que tu construíste aqui, apenas porque o teu namorado decidiu ter um filho com outra e seguir com a sua vida. O que tu tens de fazer é exactamente o mesmo, seguir com a tua vida.
- É isso que eu vou fazer Patrícia... seguir com a minha vida. Eu não vou reatar com o Ricardo, eu não gosto do Ricardo! - argumenta.
- Quem falou em Ricardo? Eu não... ouviste-me a falar no Ricardo?! Há mais homens nesta terra, mulher, e tu não és propriamente a Cayetana Stuart, tu és linda!
Ambas riem.
- Não é isso, Patrícia. Eu não... eu não quero, para já, pensar em homens, decidi que é tempo finalmente de viver a minha vida...
- Tudo bem... mas que seja por isso mesmo minha querida! Não fujas, eu não iria aguentar que fosses embora por estares infeliz!
- Não estou infeliz, acredita, não estou!
Ísis disse aquelas palavras com tanta convicção que até ela acreditou no que ouviu, e foi nesse preciso momento que realmente percebeu que aquela criança que gerava dentro de si vinha mudar tudo. A amiga saiu, Ísis sorriu, sentiu um calor enorme dentro de si, e começou a chorar, só que desta vez as lágrimas não eram de tristeza, chorava de felicidade, porque só agora compreendia realmente o que o médico lhe tinha dito "se quer que este filho nasça saudável vai ter de começar a pensar nele" e ela estava a pensar nele, e sentia uma alegria profundamente sincera por pensar nele, ou nela, que ainda não tinha pensado muito no sexo do bebé.
Ísis há muito que desejava ser mãe, só que ainda não tinha sentido que o momento certo tinha chegado. Concluiu o que há muito lhe diziam, que o momento certo nunca chega. Apressou-se a ir ao médico, a fazer todos os exames necessários e após confirmação da médica que poderia viajar, Ísis fez as malas, e sem contar a ninguém da sua gravidez, recomeçou a sua vida em Londres.
Despediu-se de Ricardo, pedindo-lhe perdão por nunca o ter conseguido amar como devia, e por não o ter respeitado como ele merecia, e mesmo ele dizendo-lhe que a perdoava que estaria disposto a tudo para a conquistar, Ísis lamentou, mas que nada a demoveria da sua decisão de sair do país em busca do seu rumo.
Os primeiros meses em Londres, foram fantásticos, após bater a algumas portas com os seus trabalhos, a sua fama de designer rapidamente se espalhou pela cidade, e arranjar trabalho não foi difícil. Alugou um estúdio pequeno, a 20 minutos do coração de Londres, e em dois meses apenas, sentiu aquela cidade como sua. Com a sua capacidade de comunicação e simpatia, rapidamente fez amigos e a sua casa e vida nunca estava vazia. Aos 6 meses conseguiu finalmente perceber o sexo do bebé e sabia que carregava um menino. Tudo corria bem, até que percebeu que existia um problema: A criança tinha de ter um pai... quanto mais não seja no cartão de cidadão. E agora?
E agora... Voltará a Ísis para Portugal? Encontrará o amor em Londres? Arranjará apenas um nome e não um pai para o seu pilas? Pois muito bem... Agora... a Fatia Mor é que sabe... por isso, olhem... perguntem-lhe!