Quem diria...
... que eu iria ser como as outras, sofrer como as outras, duvidar do futuro incerto, como as outras, olhar para trás e arrepender-me, como as outras. Quem diria que eu iria ser como as outras. Como as outras, como as pessoas normais que erram e se arrependem. Pessoas que se sentem, essas outras. Que já foram únicas e que agora são apenas outras. Quem diria que eu iria ser como as outras.
Quem diria que eu iria ser como as outras, como aquelas outras pessoas normais que duvidam e têm medo ao descobrir que ao não estar claro o futuro quiçá traçado, que poderá ser partida do diabo e transformar em inferno o que era calmo. Quem diria que eu iria ser como as outras.
Quem diria que poderiam brincar com a minha alma, com o meu corpo e sentimentos como brincaram com as almas, corpos e sentimentos, das outras. Aquelas outras que enxovalhei e gozei de tão inocentes que são por acreditarem. Eu também acreditei. Quem diria que eu iria ser como as outras.
Quem diria que eu, tão objetiva e com uma mente tão clara iria ver nada, parede no fim da linha, bater com o comboio no terminal por não ter caminho traçado nem freio carregado e preparado. Quem diria que iria bater com a cabeça como as outras, com a mesma intensidade e desvelo com que as outras bateram.
Quem diria que eu não seria diferente e iria sentir solidão. Quem diria que eu seria tão fraca ao ponto de me afogar no meu próprio não. Quem diria que eu seria só mais uma entre outras e tantas e demasiadas... outras!
Quem diria!