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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Sobre a perspectiva de felicidade

 

Isto da quarentena está-me a dar tempo para pensar em coisas que anteriormente me passavam ao lado, provavelmente até demais.

 

Este fim de semana, quando terminava de ler um livro concluí: As pessoas não querem saber sobre a felicidade, mas de tudo o resto e de todos os percalços e de todas as infelicidades até se alcançar a verdadeira felicidade, mas quando se alcança.. já não interessa! Quando um protagonista de um livro conquista finalmente o seu amor, o livro acaba. Quando um protagonista de um filme consegue finalmente vingar-se daqueles que lhe fizeram mal, o filme acaba, e até nos filmes de animação é isto que acontece. Ninguém quer saber como corre a vida da princesa após se alcançar o auge. Já não interessa. Mesmo quando há um seguimento, uma sequela, tem que ter outras aventuras, outros problemas, algo tem de correr mal para se voltar a buscar o auge, a estabilidade, e uma vez mais termina quando é alcançada.

 

Parece-me até um pouco mórbido esta realidade. Concluo que uma vida sem percalços, banal, não é interessante. Isto leva-me a outra conclusão. Quando procuramos algo na nossa vida e finalmente alcançamos, logo logo procuramos um novo objetivo e até objeções. Nunca estamos felizes realmente, porque somos eternamente insatisfeitos. É mau? Não creio que seja mau, porque o que nos move são realmente as nossas ambições. Mas é bom? Também não creio que seja bom porque estar permanentemente insatisfeito demonstra também um certo grau de arrogância, de ingratidão pelo já alcançado. Seremos por isso eternamente infelizes? Se nunca estamos satisfeitos, a verdade é que seremos eternamente infelizes, porque o alcançado nunca é suficiente. Queremos um trabalho, arranjamos um trabalho, até gostamos do que fazemos, mas logo logo implicamos com os colegas, com os chefes, e já não gostamos do que fazemos, queremos um outro trabalho, uma outra função. Queremos um marido? Arranjamos um marido, até gostamos dele, mas logo logo a rotina alcança-nos e descobri-mos que não era aquele o caminho e divorciamo-nos. Queremos uma casa? Arranjamos uma casa e até gostamos dela, mas logo logo arranjamos um problema com um vizinho ou a infiltração nas paredes nos faz odiar aquela que já foi o lar de sonho e iniciamos uma nova busca. Assim não é possível sermos felizes, mas pelo que a ficção e a literatura me ensina, nós não queremos a felicidade, nós queremos o turbilhão de emoções, os nervos e a ansiedade, queremos a montanha russa e brincar com a nossa vida como se de uma roleta russa se tratasse...

 

Por isso a felicidade parece-me que é a capacidade de agarrar um balão, e acho que simplesmente às vezes o largamos propositadamente.

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.