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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Sobre o toque

 

A vida tem me encarregado de me mostrar que é mais fácil encontrar sexo do que um abraço sentido, sem segundas intenções, só um abraço. Terno. Sentido. Caloroso. Curiosamente, ensinou-me agora, que é quando mais preciso desses abraços. Esses abraços que mesmo sem palavras nos dizem que vai ficar tudo bem. Mesmo que não fique, naquele momento fica. Para a primeira situação, basta dar um pontapé numa pedra, aparecem vindos daqui e dali e do nada. Para a segunda, apenas silêncio. Ninguém. 

 

Dizem que não temos o que queremos, mas o que precisamos. Às vezes não entendo. Não entendo também como é possível um abraço ser mais íntimo e com mais alma, do que deixarmos alguém entrar no nosso corpo, desprovido de qualquer sentimento. É incrível como é possível tocar sem sentir, e sentir tanto quase sem tocar.

 

Durante muito tempo, desde que estou solteira, procurei abraços da forma errada. Parecia que algo mais carnal com alguém acalmava a necessidade de mimo, de conforto, mas rapidamente percebi que era algo tão temporário que não compensava o vazio que, inevitavelmente, logo chegava. O vazio ficava ainda mais corrosivo.

 

Demorou, mas aprendi finalmente a estar sozinha e isso fez-me perceber que eu tenho pessoas a quem abraçar, afinal.

 

Aprendi a conhecer as minhas necessidades verdadeiras e a não camuflar com outros artefactos as verdadeiras dores. Sou péssima a lidar com a dor - é mais fácil esconder por baixo do tapete - mas aos poucos encontro estratégias.

 

Curiosamente há uns anos gostava muito de estar sozinha, passar tempo em casa, sozinha, as folgas não me soavam a folgas se não fosse em casa de pernil estendido no sofá. Agora folgas não são folgas de pernil estendido no sofá, mas sim com os amigos. Folgas agora para mim só fazem sentido quando rodeadas de gente, de risos, de mimos e de palavras. Amigos que não julgam, que escutam só, que se riem e me ajudam a rir de mim. Gosto de me rir de mim.

 

E são estas as minhas estratégias. Procurar abraços nos sítios corretos, nos braços certos, de quem nos consegue afagar verdadeiramente a alma, mesmo sem nos corromper o corpo.

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.