Sobrevalorização do ato de acordar cedo
Dizia-se, e suponho que ainda se diga que "deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer". Expliquem-me porquê. Expliquem-me, mas com argumentos lógicos, o motivo de se considerar alguém que acorde às duas da tarde preguiçoso, apesar de poder ter estado acordado até mais tarde que o comum mortal que às 22h00 já ressona loucamente - a menos que seja padeiro, já se sabe, esses sim podem dormir de dia e estar acordados de noite que não sofrem de represálias sociais.
Expliquem-me então o motivo de se dar tanta importância à hora de acordar, e eventualmente à de deitar. Não deveria de importar apenas a produtividade no final? Quando andava na faculdade estive durante alguns meses desempregada. Criei um ritmo socialmente pouco aceite. Ia para a faculdade às 18h00, saía às 00h e só ia para a cama por volta das 5h da manhã. Claramente não acordava às 9h00. Sempre fui mais produtiva de noite. E posso assegurar-vos que quase todos os meus trabalhos individuais foram realizados durante a madrugada. Acho que o ato de acordar cedo é sobrevalorizado sem que eu entenda a razão. Claramente que se eu tiver um horário de trabalho das 9h00 às 18h00 que tenho de acordar cedo, mas não é disso que estamos a falar.
E porquê isto agora?
Como sabem estou desempregada, e estou neste momento a ser seguida por uma empresa de apoio à reinserção no mercado de trabalho - confesso que me faz sentir um pouco presidiária... - e nessa empresa tenho de assistir a alguns webinares, tipo hoje, quarta-feira, dia 2 de Dezembro de 2020, dia procedente de um feriado - dia muito produtivo, apesar de confinada, deixem-me já dizer-vos - às 9h30, da manhã gente! Da manhã! Somos um grupo de 15 pessoas, mais pessoa menos pessoa e alguém se lembrou que era porreiro pôr um grupo de desempregados a acordar cedo para assistir a um webinar de 2h. Vai ser assim ao longo de algumas semanas.
Deixem os desempregados dormir!
"Ah Mula, mas é importante criar rotinas!"
Certo, claro que é, ninguém aqui disse o contrário. Eu criei novas rotinas - aliás ainda mal descansei que tenho sempre muito o que fazer - mas deixem-me desde já chocar-vos que não implicam acordar como se ainda trabalhasse no escritório das 9h às 18h. Permitir-me dormir - até porque já vos disse que não sou, de todo uma morning person - faz parte do meu luto, do meu lado positivo do desemprego, do meu mimo, porque toda a gente precisa de mimos nesta altura. Mas a verdade é que continuam a valorizar demasiado o ato de acordar cedo e insistem que porreiro era colocarem um grupo de desempregados a acordar cedo para assistirem a webinares...
A sério, digam-me lá sinceramente, não consideram o uso do despertador um ato de violência? O nosso corpo é que sabe quando deve despertar... Não deveria de ser forçado a tal...