Digo-vos já assim rapidamente e sem qualquer tipo de preliminares, que adorei o filme. Só já assim por causa das coisas. E logo eu que não costumo ser grande apreciadora de filmes nomeados para os óscares, mas a verdade é que ultimamente tenho ficado bastante surpreendida com os filmes nomeados, este foi um deles.
Porque há mais gente com bom gosto, como a Mula, Jojo Rabbit é já considerado - e a meu ver muito bem - um dos 10 melhores filmes do ano e foi por isso nomeado para seis óscares, tendo vencido na categoria de Melhor Roteiro Adaptado.
Jojo Rabbit é a prova de que não há limites para o humor e que sim, que se pode brincar com temas sérios e sensíveis como o Holocausto, sem nunca esse tema perder a seriedade, a importância e neste caso a repugnância. Jojo Rabbit é uma sátira ao nazismo e à Segunda Grande Guerra.
Assim, a ação de Jojo Rabbit decorre na Alemanha durante a II Guerra Mundial, na altura em que as tropas Americanas e Russas começaram a avançar. Jojo é um menino de 10 anos nazi, cujo sonho é ser o braço direito de Hitler, o seu grande ídolo e ao longo de toda a trama vemos Hitler como o amigo imaginário de Jojo - interpretado pelo próprio realizador, Taika Waititi - e é através deste amigo imaginário que vemos a evolução da consciência do menino sobre o que se está a passar realmente à sua volta.
Tendo como sonho ser o braço direito de Hitler, imaginamos Jojo um menino de mau carácter e frio, mas não é isso que realmente encontramos. Quando Jojo tentar alistar-se na Juventude Hitleriana, que pretende transformar crianças e adolescente alemães em perfeitos espécimes arianos, percebemos que estamos perante um menino de bom coração e de bom fundo, apenas com uma ideia errada de si e das suas lutas. E daí o nome de Rabbit, porque Jojo tenta salvar um coelho que a juventude Hitleriana acaba por matar.
Mas apesar de tudo isso, e encorajado pelo seu Hitler imaginário, Jojo decide lançar uma granada para provar que poderia ser tão forte e empenhado como um bom ariano, mas corre mal e Jojo é afastado do recrutamento.
Entretanto, descobre no sótão de sua casa uma menina judia que a sua mãe acolhe às escondidas e vê uma forma de se tornar famoso e deixar o Hitler orgulhoso: Irá escrever um livro sobre como são os judeus e para isso contará com a sua amiga judia do sótão. É aí que a transformação de Jojo começa pois começa a perceber, com o tempo, que as coisas não são bem como ele achava que eram.
Todo o filme é contado pelos olhos de Jojo, e é através dele que percebemos a ignorância das pessoas, e a forma como os judeus eram retratados na Alemanha Nazi.
Apesar de Hitler nos ser mostrado no filme como uma figura patusca, fruto da imaginação de uma criança num filme de comédia facilmente nos apercebemos da verdadeira realidade e da metáfora que o filme pretende. A mensagem apesar de ser cómica está longe de nos levar às lágrimas de tanto rir e nunca se distancia o suficiente das atrocidades que na realidade aconteceram e o filme joga com isso, vai-nos tirando a vontade de rir com o avançar dos minutos e apesar de tentar aligeirar o tema, vai-nos espetando facas no coração, mas também nos vai dando mensagens de esperança.
Como já vos disse, eu gostei muito, sabem que me interesso pelo tema, já li e escrevi imenso sobre isso, e este filme mostra-nos que não é preciso imagens chocantes para nos chocarmos com a realidade, com o que realmente aconteceu.
Já vos disse algumas vezes que gosto de ler sobre o Holocausto, num misto de horror e aflição, mas gosto de ler sobre esta época. Não vos sei dizer porquê. Acho que tento procurar respostas - Como foi possível?Por que é que fizeram tal atrocidades a pessoas inocentes? - mas infelizmente mais livros só me fazem é ter mais questões... Por isso quando soube que havia um livro sobre o holocausto no grupo do Livro Secreto fiquei expectante.
O primeiro contacto que tive com Josef Mengele foi no livro Canção de Embalar de Auschwitz de Mario Escobar mas é a primeira vez que tenho a visão dos horrendos crimes pelos olhos das crianças que as sofreram. Como referiu a Crítica: É um livro "Brutalmente belo."
Apesar de A outra metade de mim retratar o global do que os gémeos de Auschwitz sofreram às mãos do Anjo da Morte, o livro é-nos contado em dois testemunhos de duas gémeas de 12 anos: Pearl e Stasha que chegaram a Auschwitz em 1944 sendo imediatamente reencaminhadas para o Zoo de Mengele - como ele próprio gostava de chamar. Pearl e Stasha tinham uma sensibilidade especial e conseguiam adivinhar o que cada uma estava a pensar e a sentir, mas à medida que as experiências de Mengele começam, as gémas vão-se afastar daquilo que são e julgam ser, irremediavelmente. Stasha julga que Mengele a injetou com uma poção que a torna imortal e isso vai fazer com que nada tema e busque vingança mesmo quando tudo poderia ter-se perdido para sempre e já nada lhe restava. Após Pearl desaparecer, Stasha vai procurá-la nem que para isso tenha que dar a volta ao mundo, mesmo julgando-a morta e por isso mesmo após a libertação do campo parte com um amigo que igualmente perdeu o seu gémeo nas experiências do Zoo, à procura da sua metade, ou quiçá à procura de si mesma e apesar de os campos terem sido libertados vamos perceber que a população continua disposta a subjugá-los e a humilhá-los.
Que vos dizer sobre este livro? Poderia falar-vos dos horrores das experiências. Stasha deixou de ouvir de um lado porque Mengele lhe verteu água a ferver num dos ouvidos. Poderia falar-vos que crianças com 8, 9 e 10 anos viviam em jaulas tão pequenas que mal se poderiam virar, ou deitar. Poderia falar-vos das humilhações, das traições e das alianças que se faziam no Zoo.
Mas não.
Quero antes falar-vos da mensagem de esperança que o livro passa. Da força que aquelas crianças tão pequenas tinham apesar de terem ficado sem irmãos, sem pais, sem qualquer família. Da vontade que as crianças tinham em reconstruir as suas vidas e simplesmente esquecerem que aquilo existiu e aconteceu. Prefiro antes dizer-vos que o livro mostra que é possível existir amor nos locais mais horrendos. Que é possível construir-se uma amizade pura e verdadeira nos lugares mais horrendos.
É incrível, como sempre me consigo surpreender com as atrocidades que as pessoas conseguem submeter a outras em nome de algo que não entendo. É incrível como ainda me consigo chocar com o que leio, e como existe sempre algo pior. Há sempre livros que nos contam coisas ainda mais horríveis que já aconteceram.
Não há muito, sinceramente, que vos possa contar sobre este livro. Só que não é aconselhado a pessoas mais sensíveis.
Se tiverem oportunidade, leiam. Eu gostei muito, dentro do que me é possível gostar deste tipo de livros. Só me resta agradecer à Fátima por tê-lo colocado a circular.
Terminei de ler o livro Os Sete Últimos Meses de Anne Frank, do cineasta holandês Willy Lindwer, livro que me acompanhou nas últimas três semanas. Comprei este livro por impulso numa das minhas visitas ao supermercado da terrinha. Li algumas passagens enquanto esperava que o Mulo encontrasse qualquer coisa para o nosso carro, e já não consegui sair do supermercado sem o livro.
Tenho um sentimento dual para com este livro. Se por um lado gostei, por ter testemunhos marcantes e chocantes de várias mulheres que sobreviveram ao holocausto, por outro lado senti-me completamente enganada, porque este livro está longe de ser «O "último capítulo", nunca escrito, do diário de Anne Frank» porque se é verdade que todas as mulheres constantes neste livro conheceram Anne Frank, por outro, este livro não é sobre Anne Frank existindo apenas breves referências à sua pessoa e à sua irmã, uma vez que estas mulheres viram-na no campo de concentração, mas a maioria nem conviveu com ela, como é dado a entender pelo autor do livro. Por isso senti que usaram o nome de Anne Frank para venderem um livro que não é, efectivamente sobre Anne Frank. Agora, claro que, é inegável que Anne possa ter vivido tudo aquilo que foi descrito por estas mulheres, já que os factos se repetem ao longo dos vários testemunhos, sobre diferentes pontos de vista, mas estamos muito longe de ter um ponto de vista da Anne sobre isto que aconteceu a si e à sua família, nem tão pouco um ponto de vista e os sentimentos de Otto Frank foram explorados. Senti por isso que usaram o nome da Anne para vender mais e para conseguirem destacar o livro, que provavelmente de outra forma não conseguiria ter tanta visibilidade.
Por outro lado, é realmente um bom livro - dentro do que se pode chamar de bom, ao horrível -, com testemunhos marcantes e macabros sobre o que aconteceram a milhões de judeus, ciganos e presos políticos na II Guerra Mundial e no Holocausto. É curioso como diferentes mulheres que experienciaram os mesmos acontecimentos têm visões tão diferentes do que lhes aconteceu, e com formas tão diferentes de viver durante o próprio holocausto: umas mais resignadas e à espera da morte, outras com um maior espírito de luta e de força interior, bastante mais desafiadoras.
Ao ler o livro é impossível não ficarmos revoltados. Não consigo compreender como é que alguém se consegue julgar superior a outro e infligir-lhe sofrimento sem qualquer motivo. Como é que pessoas, igualmente presas, se conseguem aliar aos bandidos que lhes fizeram mal, para fazer ainda pior a outras pessoas. Há coisas que realmente nunca vou conseguir compreender!
Não é um livro de leitura fácil, se por um lado possui, relatos horrendos de experiencias de sofrimento e privação, por outro contém imensos termos em alemão, que pode dificultar a compreensão do livro. Mas com a continuidade percebe-se o que querem dizer.
Se procuram um livro sobre o Holocausto, aconselho vivamente este livro, se procuram um livro sobre Anne Frank, esqueçam!