E com tudo isto do divórcio perdi a noção do desafio. Pelo meio alguns livros que não consegui ler com muita pena minha, outros que li e não referi. Aqui vai uma atualização deste desafio de livros.
Por aqui entretanto já passaram:
#16 As Gémeas do Gelo de S. K. Tremayne
As Gémeas do Gelo de S. K. Tremayne foi o 16º livro do desafio de leitura do livro secreto. Não li este livro durante a iniciativa, porque li este livro em 2016 cuja opinião encontram aqui. Se quiserem assim uma opinião rápida e resumida... Hmmm... Leiam o livro, é ótimo. É um thriller, meio místico, cheio de suspense e volte-faces. O final é um pouco previsível mas ainda assim vale bastante a pena. Se gostam de livros de suspense, não percam este.
#17 Uma Praça em Antuérpia de Luize Valente
Foi a grande perda deste ano. Recebi este livro no meio do turbilhão da minha vida e devolvi-o sem ler uma única página, e era um daqueles que eu queria mesmo muito ler. Está na minha wishlist. Um dia deito-lhe os cascos numa promoção.
#18 Homens Imprudentemente Poéticos de Valter Hugo Mãe
Foi o livro que mais sentimentos estranhos causou durante este desafio. Gostei da forma de escrita do autor, da forma como brinca com as palavras, da forma como nos apresenta questões da vida, mas não entendi nada da história. Gostava de vos fazer um breve resumo do livro mas simplesmente não consigo porque não percebi nada. Há um artesão e um oleiro, há um ódio que os une e separa sem explicação - ou eu é que não entendi a razão... -, há uma cega, irmã do artesão, cuja existência na história eu não compreendo e há uma série de analogias que me passaram completamente ao lado. Pronto é isto. Li o livro todo, entreteve-me bastante bem, não o recomendo porque realmente senti-me a ler no vazio, ainda que para mim tenha servido perfeitamente o propósito de me distrair.
#19 Viagens de Magda Pais
Pois é, este é o livro da nossa tão conhecia Magda. Viagens é um blog em forma de livro, por isso é um livro que todos vocês - que leem blogs - deveriam de ler. Viagens é um livro com várias crónicas com a pitada de humor já habitual desta mulher são bem disposta. Mesmo quando os temas são sérios ela sabe dar um toque pessoa que torna o tema bastante mais leve, por isso foi um livro que apreciei bastante.
#20 O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá de Jorge Amado
E este foi o último livro que passou aqui pelo curral. Já tinha lido este clássico de Jorge Amado e por isso acabei por não o reler, até porque o tenho e poderei lê-lo numa outra altura com mais disponibilidade.
E pronto, arrumada a casa, o próximo livro secreto deve estar mesmo aí a chegar.
Durante todo o tempo que vi este livro a circular no grupo, li mal o título. Mesmo quando chegou às minhas mãos chegou com o título errado, e só quando pesquisei a capa do livro para colocar no blog é que vi que o livro se chamava Vendedor de Passados e não Vendedor de Pássaros - que modéstia à parte, também me parece um bom título. Mas adiante, a verdade é que este é o 15º livro que por aqui passa e seria mais um que eu nunca teria lido se não estivesse no grupo.
O Vendedor de Passados conta a história de como um homem negro albino, de nome Félix Ventura, cria novos passados a quem o procura, até que um misterioso homem lhe pede para criar toda uma nova identidade e aí tudo muda. Toda a história é contada por Eulálio, uma osga que vive com Félix e que assiste a tudo sem influenciar nada.
Este é um livro... Estranho. Não sei se gostei, não sei se desgostei. Ora deixem-me tentar explicar-vos. Não gostei da história, mas gostei de como a mesma foi contada, gostei da forma como José Eduardo Agualusa escreve. No entanto, não deixa de ser uma história confusa, nunca se percebe muito bem o que é real, o que é fictício, quem diz a verdade quem não diz e o final é apenas ameno nunca existindo um clássico clímax que a malta tanto adora nos livros.
Mas é um livro que vale mais do que a história em si, é um livro com ensinamentos, com reflexões acerca da vida, acerca dos costumes, e isso confesso agradou-me.
Gostei também do facto de Agualusa nos demonstrar da facilidade com que uma mentira se pode tornar numa verdade, bastando para isso que se acredite de tal maneira nessa mentira.
Não acho, de todo, que seja um livro incrível ou inesquecível mas foi um bom momento de lazer, mas sinceramente, para mim foi apenas isso.
O livro deste mês veio em dose dupla devido a uma desistência. E foi assim que li o Contigo para Sempre do japonês Takuji Ichikawa antes que fugisse da iniciativa. É só mais um livro que desconhecia e que cujo autor nunca ouvi falar e se por um lado estava com muita curiosidade - a sinopse agradava-me - confesso que por outro lado estava com algum receio porque estava um bocado escaldada com autores japoneses. Mas sabem que mais? Este pequeno livro é dos livros mais bonitos que li nos últimos tempos!
Mio, Takumi e Yuji eram uma família feliz até que o pilar da família - Mio - morre aos 29 anos devido a doença prolongada. Percebemos logo nas primeiras páginas que Takumi é especial, com muitos problemas de saúde e quando se vê sozinho com o filho pequeno, sente-se totalmente perdido. Nunca mais a casa pareceu arrumada, usavam roupa suja, e comiam sempre a mesma coisa. No trabalho Takumi era beneficiado devido aos seus problemas e apesar de não ser um bom funcionário os colegas ajudavam-no sempre que podiam. Tinham pena dele. Takumi era muito abençoado e sabia disso.
Tudo muda quando de repente Mio reaparece.
Num passeio pelo bosque, Takumi e Yuji encontram Mio perdida, encharcada e sem qualquer memória da sua vida. Takumi tem a certeza: está perante o fantasma da sua mulher, que cumpriu a sua promessa quando no leito de morte lhe disse que regressaria na época das chuvas para ver como é que eles estavam. Assim Takumi engendrou um plano: não lhe contaria que era um fantasma, dir-lhe-ia que tinha caído, batido com a cabeça e por isso não se lembrava de nada para que a sua mulher não voltasse a ir embora e para que esta voltasse a amá-lo contar-lhe-ia a história deles os dois. O livro é por isso a história que Takumi contou a Mio para que pudessem voltar a apaixonar-se.
Contigo para sempre é uma história de amor pouco convencional, que retrata a importância dos pilares, da independência e do amor, pois claro, na vida das pessoas. É um livro com um final surpreendente e que nos faz questionar: E se pudéssemos escolher seguir uma vida totalmente diferente? E se pudéssemos viver mais tempo mas não conhecer os nossos maridos, os nossos filhos? Poderíamos ser felizes se soubéssemos o que tínhamos perdido?
Contigo para sempre é uma história de fantasia mas que relata acontecimentos de superação que poderiam existir em qualquer família. É uma história que é contada de forma totalmente diferente, com muita ternura, com muito sentimento e com algum humor. É um livro com uma escrita muito fluida, com imensos diálogos que se lê num instantinho.
Chegou aqui a casa mais um livro secreto e mais uma vez chegou um livro que nunca tinha ouvido falar, sobre um tema que eu conheço tão, mas tão mal que confesso que me dificultou bastante a interpretação deste livro. Vamos então ver o que eu achei do livro Palestina de Hubert Haddad.
Palestina retrata a história de um homem e militar israelita, Cham, que é capturado na Cisjordânia e levado por um comando palestiniano para servir como moeda de troca. Ao perceberem que ninguém dá pela sua ausência, o que significa deixar de servir como moeda de troca, o comando pretende matá-lo mas Cham consegue escapar. Ferido e em estado de choque Cham perde a memória e é acolhido por duas palestinianas: Asmahane viúva cega que perdeu recentemente o filho Nessim e Falastìn sua filha que é totalmente o oposto da mulher árabe, com uma personalidade forte e de grande resistência. E é assim que Cham, graças a estas duas mulheres, passa a ser Nessim para poder viver minimamente em segurança. Claro que em todos os romances há uma história de amor e é quando Cham/Nessim se apaixona por Falastìn que a sua vida ganha um novo objetivo: Ficar perto de Falastìn. Mas viver um amor em altura de guerra é tudo menos fácil. É pelos olhos de Nessim e Falastìn que percebemos todo o horror deste confronto e as dificuldades que os povos vivem com todas as atrocidades que contra inocentes são cometidas diariamente.
Confesso que tive muitas dificuldades em compreender o livro. O livro é pequeno mas a escrita é densa e por vezes complicada e confesso que diversas vezes não entendi o que se estava realmente a passar. Por essa razão não foi um livro que apreciei ler apesar da história envolvente ser triste, chocante e comovente. Apesar de tentar passar uma mensagem de esperança e de demonstrar todo o horror que estas pessoas vivem durante a Guerra entre Israel e a Palestina.
Destaco no entanto o facto do livro demonstrar a capacidade de que as pessoas têm de esperança apesar de viverem em condições desumanas e totalmente privadas do seu bem mais precioso: A liberdade, e o sentimento de pertença.
O que mais gostei foi do facto do autor não se colocar em nenhuma das posições e ser da posição a paz demonstrando que todos estão errados neste conflito e que as únicas vítimas verdadeiras são os civis que todos os dias são bombardeados, capturados e torturados.
Senti no entanto que me faltou contexto, essencialmente para poder tirar as minhas próprias ilações e as minhas próprias conclusões acerca do que nos era retratado, ainda que a mensagem que pretende passar captei na perfeição: numa guerra todos são culpados.
Apesar de não ter aproveitado devidamente a leitura do livro, essencialmente por me sentir tantas vezes perdida e confusa, recomendo a leitura do mesmo a quem o tema interessar.
Já vos disse algumas vezes que gosto de ler sobre o Holocausto, num misto de horror e aflição, mas gosto de ler sobre esta época. Não vos sei dizer porquê. Acho que tento procurar respostas - Como foi possível?Por que é que fizeram tal atrocidades a pessoas inocentes? - mas infelizmente mais livros só me fazem é ter mais questões... Por isso quando soube que havia um livro sobre o holocausto no grupo do Livro Secreto fiquei expectante.
O primeiro contacto que tive com Josef Mengele foi no livro Canção de Embalar de Auschwitz de Mario Escobar mas é a primeira vez que tenho a visão dos horrendos crimes pelos olhos das crianças que as sofreram. Como referiu a Crítica: É um livro "Brutalmente belo."
Apesar de A outra metade de mim retratar o global do que os gémeos de Auschwitz sofreram às mãos do Anjo da Morte, o livro é-nos contado em dois testemunhos de duas gémeas de 12 anos: Pearl e Stasha que chegaram a Auschwitz em 1944 sendo imediatamente reencaminhadas para o Zoo de Mengele - como ele próprio gostava de chamar. Pearl e Stasha tinham uma sensibilidade especial e conseguiam adivinhar o que cada uma estava a pensar e a sentir, mas à medida que as experiências de Mengele começam, as gémas vão-se afastar daquilo que são e julgam ser, irremediavelmente. Stasha julga que Mengele a injetou com uma poção que a torna imortal e isso vai fazer com que nada tema e busque vingança mesmo quando tudo poderia ter-se perdido para sempre e já nada lhe restava. Após Pearl desaparecer, Stasha vai procurá-la nem que para isso tenha que dar a volta ao mundo, mesmo julgando-a morta e por isso mesmo após a libertação do campo parte com um amigo que igualmente perdeu o seu gémeo nas experiências do Zoo, à procura da sua metade, ou quiçá à procura de si mesma e apesar de os campos terem sido libertados vamos perceber que a população continua disposta a subjugá-los e a humilhá-los.
Que vos dizer sobre este livro? Poderia falar-vos dos horrores das experiências. Stasha deixou de ouvir de um lado porque Mengele lhe verteu água a ferver num dos ouvidos. Poderia falar-vos que crianças com 8, 9 e 10 anos viviam em jaulas tão pequenas que mal se poderiam virar, ou deitar. Poderia falar-vos das humilhações, das traições e das alianças que se faziam no Zoo.
Mas não.
Quero antes falar-vos da mensagem de esperança que o livro passa. Da força que aquelas crianças tão pequenas tinham apesar de terem ficado sem irmãos, sem pais, sem qualquer família. Da vontade que as crianças tinham em reconstruir as suas vidas e simplesmente esquecerem que aquilo existiu e aconteceu. Prefiro antes dizer-vos que o livro mostra que é possível existir amor nos locais mais horrendos. Que é possível construir-se uma amizade pura e verdadeira nos lugares mais horrendos.
É incrível, como sempre me consigo surpreender com as atrocidades que as pessoas conseguem submeter a outras em nome de algo que não entendo. É incrível como ainda me consigo chocar com o que leio, e como existe sempre algo pior. Há sempre livros que nos contam coisas ainda mais horríveis que já aconteceram.
Não há muito, sinceramente, que vos possa contar sobre este livro. Só que não é aconselhado a pessoas mais sensíveis.
Se tiverem oportunidade, leiam. Eu gostei muito, dentro do que me é possível gostar deste tipo de livros. Só me resta agradecer à Fátima por tê-lo colocado a circular.
E o 11º livro do Livro Secreto já chegou e já está pronto para visitar outra casa. Foi uma caixinha de surpresas, confesso que me deixou de queixo caído. Adorei totalmente sem contar. Talvez tenha adorado porque estava com as expectativas bem lá em baixo, ou talvez tenha adorado porque o livro é mesmo bom, não sei, leiam e tirem as vossas conclusões, mas eu fiquei mesmo muito surpreendida com a escrita da Júlia Pinheiro, diria até que escolheu erradamente ao escolher a carreira de apresentadora/moderadora/whatever.
Um Castigo Exemplar de Júlia Pinheiro conta a história de como Amélia Novaes, uma menina burguesa filha de um juiz desembargador, casa com Henrique Bettancourt Vasconcelos, filho do visconde De Lara contra a família deste, uma vez que não era bem visto um elemento da aristocracia constituir família com a burguesia por estes últimos serem considerados inferiores socialmente. Amélia casou-se apaixonada mas Henrique nunca retribuiu e a família deste nunca a aceitou, e o facto de não engravidar não ajudou à união do casal sendo que ele acaba por ir para o estrangeiro durante vários anos com a suposta finalidade de expandir os seus negócios. Assim, Amélia vê-se abandonada durante vários anos achando que o marido estava numa viagem de negócios, até que descobre que era mentira, e que toda a sua vida foi uma farsa, descobrindo assim as verdadeiras intenções de Henrique ao casar-se consigo. Amélia decide assim delinear um plano de vingança, achando ela que estava a criar um castigo exemplar para ser recordado posteriormente, enquanto se foi deixando contaminar pelo ódio que a consumiu. Será que Henrique terá um castigo à sua medida? Como ficará Amélia nesta história de mentira?
Li um dia algures que não há nada pior que uma mulher despeitada, e Um Castigo Exemplar fala exatamente disso, do que é uma mulher capaz por amor e por ódio, dos limites da moral e do emocional, do que somos capazes de fazer quando nos ferem a alma e o corpo e nos traem. É fácil - ou para mim foi - colocarmo-nos no papel de Amélia mesmo quando esta tem atitudes moralmente condenáveis. É fácil porque lhe conhecemos a dor, sabemos pelo que passou, as humilhações que sofreu, no entanto ao criarmos um distanciamento percebemos facilmente que Amélia ultrapassa claramente os limites do chamado "bom senso" por agir sob efeito de um ódio incontrolável, apesar de a compreendermos é fácil julgá-la e condená-la.
Algo que temos de ter em atenção quando lemos este livro, é a época em que ele se insere. Nos dias que correm onde o divórcio é aceite e praticado esta história seria exacerbada, mas tendo em conta que falamos de uma época em que o divórcio era mal visto para a mulher, que falamos de uma altura em que era considerado normal o homem cometer adultério e que era esperado da mulher que o perdoasse, que aceitasse tudo e o recebesse em casa sem mas nem porquês, que esta história poderia ter sido a história real de muitas mulheres da época, de mulheres com garra e corajosas claro está. Amélia vai-nos mostrar que as mentalidades mudam quando também nós mudamos e que é preciso fazer diferente para que no futuro possa ser diferente, mas também nos ensina que é preciso sofrer as consequências no final. A história de Amélia mostra-nos também a evolução das pessoas face aos acontecimentos e no início encontramos uma Amélia frágil, inocente e submissa que não se sabe comportar em sociedade nem enfrentar a família de Henrique, sendo constantemente humilhada pela família deste, para se transformar numa mulher adulta que nada teme, capaz de gerir as emoções e de delinear um plano a longo prazo que engloba toda a família. É incrível como os factos nos moldam à sua medida.
O que mais me surpreendeu no livro, foi a escrita de Júlia Pinheiro, a forma de encadeamento da história. Gostei bastante da forma como está redigido, gostei da forma como ela nos mostra os acontecimentos e como nos transporta através das páginas em direção ao grande final. E o final é algo inesperado. Gostei da forma como foi capaz de me prender ao livro gerando uma curiosidade quase incontrolável pelo que vinha a seguir.
Podem concluir pela minha opinião que adorei o livro e o recomendo.
O décimo livro do desafio do livro secreto já veio e já seguiu para novas paragens. Desta vez tocou-me um livro cuja história nunca me suscitou curiosidade e cujo filme fui ignorando das várias vezes que foi passando na televisão. É que nem o facto de ser com o meu tão adorado Jude Law me fazia ter curiosidade no filme. Soubessem ainda o que eu odeio a estrutura dos livros da Sábado... É da Sábado e das Edições do Brasil, simplesmente odeio o grafismo e por muito bom que seja o livro fico sempre apreensiva por ler algo com tão fraca qualidade visual - que no caso da Sábado é mesmo por ter demasiado texto corrido, quase sem margens e quase sem espaçamento do texto... Meus ricos olhinhos.
Tinha tudo para correr bem esta leitura, não tinha? Ainda assim a Mula arrisca, a Mula petisca e a Mula lê e por vezes a magia acontece.
O Talentoso Mr. Ripley conta a história de como um grande burlão, altamente desinteressante socialmente falando, ascende à classe média-alta usurpando a identidade de outrem. Mr. Ripley possui vários talentos, entre eles o de falsificar, ludibriar e enganar os outros. Possuidor de uma memória fantástica consegue ser várias pessoas diferentes memorizando sem dificuldade o que é que cada personagem viu, viveu ou sentiu, como se os seus vários "eus" não se tocassem e não vivessem a mesma experiência. Mr. Ripley vai entrar de mansinho numa família e vai tirar o máximo proveito dessa entrada.
Não seria de todo um livro que eu leria. Como indiquei, a verdade é que nem o filme me suscitou curiosidade mas no final acabei por gostar do livro. A primeira metade do mesmo é na minha opinião aborrecida. Não há emoção, não há suspense, não há artimanhas suficientes para me prenderem à leitura, mas quando o cerco a Mr. Ripley começa a apertar a verdade é que o livro se torna até viciante e queremos saber o que vai acontecer de seguida. Confesso que o final não me surpreendeu totalmente, até porque o próprio título do livro nos passa essa imagem, de alguém surpreendente, porque se é um talento... e mais não digo porque não quero ser spoiler.
Este é um livro que relata como as pessoas podem de um momento para o outro estragar a nossa vida sem darmos conta. Conta como as amizades erradas podem ser altamente perigosas e como o desejo de viver intensamente pode ser mais prejudicial que benéfico. É também um livro que retrata a inveja e que demonstra como a ausência de uma estrutura familiar estável e saudável pode despoletar acontecimentos horríveis anos mais tarde.
Posto isto posso dizer-vos que no final até gostei do livro. Não é de todo o meu estilo de livro, no entanto posso dizer que até me proporcionou bons momentos.
Terminado o livro, e umas horas depois - na realidade foram só 10 minutos - decidi ver o filme. Não é que tinha dado no AXN uns dias antes? Desilusão total! Bem sei que os filmes são baseados nos livros, que não são os livros mas... É mesmo necessário fazerem algo tão, mas tão diferente? Chegam a alterar as características das personagens e tanto que é importante da história se perde.
Dickie no livro é um tanto lunático mas não é mulherengo, no filme não pode ver um rabo de saias que mexa. Mas um playboy em Hollywood vende mais, compreendo. Dickie adorava pintar, no filme trocaram a pintura pela música. Porquê? É mais consensual? No livro Mr. Ripley era de um talento incrível, com uma capacidade de resposta e de improvisação quase sobrenatural, no filme não passa essa mensagem. Apesar de Ripley se apoderar da personagem de Dickie e de os dois passarem a ser a mesma pessoa a verdade é que no livro quase achamos que existem realmente duas pessoas distintas, porque ele assume os dois papéis de modo tão diferente que por momentos pode levar o leitor a acreditar no que acredita Ripley: que é Dickie. No filme, nada disto é transmitido, e para mim este era o grande talento do Mr. Ripley. No livro morrem duas pessoas, no filme morrem quatro. Que mãos largas... No livro não senti que alguma vez a Marge desconfiasse de Ripley, no filme ela acusa-o e tem a certeza absoluta da sua culpa.
Agora a sério, digam aqui à Mula com sinceridade: É mesmo necessário alterar tanto de uma história para vender? Ao menos as paisagens no filme são incríveis. Ao menos isso.
Resumindo e concluindo a Mula não queria ver o filme, nem queria ler o livro mas no final a Mula acabou a gostar do livro, e do início ao fim, a Mula não gostou do filme.
E desse lado: Quem já leu? Quem já viu o filme? Opiniões procuram-se.
Não, não me enganei a numerar o desafio... Infelizmente não tive tempo de ler o oitavo livro do desafio secreto, o Ferrugem Americana de Philipp Meyer e por isso esse seguiu direitinho para a próxima paragem. Chegou entretanto o novo livro do Livro Secreto, O Ladrão de Sombras de Marc Levy e esse sim, sendo um dos que mais queria ler desta remessa, agarrei-o e inevitavelmente me apaixonei.
O livro é pequenino, mas a história... Essa é enorme!
O Ladrão de Sombras conta a história na primeira pessoa, de um menino inadaptado que consegue roubar as sombras às pessoas.
Esse menino, mais pequeno que os miúdos da sua idade, muda de escola e com essa mudança começa todo o seu tormento. É gozado pelo rufião da turma e apaixona-se por Elizabeth de quem o rufião Marquèz gostava, o que não abonou a seu favor. Para além de ser gozado na escola e temer Marquèz o seu pai sai de casa para ir viver com outra mulher e isso deixa o menino ainda pior, sentindo-se de alguma forma culpado pelo que estava a acontecer. Este menino não tinha amigos e na escola a única pessoa com quem conversava era com um vigilante e é aí que nos apercebemos verdadeiramente do dom deste menino.
Este menino consegue ouvir as sombras, consegue compreender a dimensão do sofrimento das pessoas, e é isso que o torna tão especial, apesar de não o perceber na altura. Um dia, este menino pequeno que tinha medo de tudo ganha confiança ao roubar, sem saber como, a sombra de Marquèz. Se ao início isso o apavorou, com o tempo mudou-lhe o rumo da história. O pequeno menino deixou de ser pequeno e entretanto deixou de temer as pessoas, é por essa altura que conhece Luc, de quem jura ser amigo toda a vida. Essas sombras no entanto, não são meras sombras, são na realidade pedidos de ajuda, é através das sombras que o menino conhece as pessoas e é através delas que as consegue ajudar.
Entretanto o menino cresce, torna-se um homem e vamos percebendo ao longo da história que o seu passado o vai perseguir sempre, e que este vive para ajudar os outros mais do que se ajudar a si mesmo. Este menino, agora jovem, vive para os outros até que finalmente encontra o seu rumo.
Este é um pequeno livro cheio de amor, de ternura, de algum humor. É uma história que nos consegue amarfanhar o coração sem que nada o faça prever. É uma história que revela a imensidão das pessoas, as suas mazelas. O rufião Marquèz é mal amado em casa, o pobre vigilante perdeu a mãe no parto e foi maltratado pelo pai, o próprio pai do menino deixa de fazer parte da sua vida. Este livro comporta várias pequenas histórias que sendo literárias poderiam ser as dos nossos vizinhos do lado, poderiam ser as histórias da nossa infância. É uma história que revela o verdadeiro valor da amizade, das primeiras relações e do primeiro amor. É uma história que demonstra como por vezes podemos fazer mal a quem tanto queremos bem, por distração, ou quiçá por falta de empatia.
A escrita de Marc Levy é simples, essa eu já a conhecia do E se fosse verdade... apesar de não ter apreciado muito essa história devido aos clichés e machismos nela constantes. Este livro é muito mais simples, muito mais emocional, muito mais despido de artefactos de distrações de escrita. Este livro é apenas emoção. Senti tantas vezes empatia com o menino e com outras histórias que ele ia contando... Recordam-se deste episódio? Pois que o livro conta um muito semelhante, com à exceção de que eu não deixei de comer, nem morri. Como eu entendi aquele menino...
Há livros de que gostamos mas que não nos marcam. Há livros que nos enternecem mas que com o tempo se esquecem, e depois há aqueles livros que nos marcam, nos enternecem e que permanecerão agarrados à nossa alma: este é um desses livros.
Ó Mula, mas então tu agora gostas de livros de fantasia?
Ah meus fofuxos da Mula, este é muito mais que um simples livro de fantasia! É um livro de puro amor... Puro amor!
Já não me lembro a quem pertence este livro, mas queria agradecer à pessoa por o ter colocado a circular! Muito obrigada mesmo!
Feliz com o resultado da primeira edição do livro secreto avancei para a segunda edição sem olhar para trás. Com o dobro dos participantes, com o dobro dos livros e o mesmo prazo, esta segunda edição tem sido tão rica como a primeira.
Destes 8 livros recebidos e enviados, apenas dois não foram lidos, que como podem adivinhar foram Os Fidalgos da Casa Mourisca de Júlio Dinis e o Ferrugem Americana de Philipp Meyer, os dois pelo mesmo motivo: Falta de tempo. Se o primeiro não o li porque foi quando comecei a trabalhar e tinha a minha vida toda em pantanas, o segundo estava com outra leitura em mãos que não consegui terminar, entretanto o livro chegou o prazo terminou e só depois me lembrei que não o tinha lido. A verdade é que serem livros que não nos entusiasmam à partida também não ajudam a que nos apressemos. O mesmo já não vai acontecer com o Ladrão de Sombras, porque é um livro que quero muito ler já há bastante tempo.
Como podem ver dos 21 livros lidos este ano, 7 foram desta iniciativa pelo que podem facilmente depreender que é um desafio que nos faz poupar alguns euros em livros e "obrigar-nos" a ler livros que de outra forma não leríamos e tantas vezes nos surpreendermos.
Destes 8 livros recebidos, o meu grande destaque vai para As Terças com Morrie que foi dos livros mais belos que já li destes dois desafios. Uma mensagem forte, uma leitura sobre a morte e sobre a vida que nos põe a pensar no que vale realmente a pena. O que menos gostei talvez tenha sido o Em Teu Ventre de José Luís Peixoto.
Dos que ainda não recebi estou muito curiosa - e super ansiosa - com o Um Homem Chamado Ove de Fredrik Bakman e com A Outra Metade de Mim de Affinity Konar que seriam livros que eu compraria, que me chamaram à atenção desde o desvendar da listagem. E confesso... Estou com muito medo do Homens Imprudentemente Poéticos de Valter Hugo Mãe. É daqueles livros que sempre quis ler, mas já me alertaram que não é de leitura fácil e então é daqueles livros que não sei porquê quero muito gostar mas não sei se isso vai acontecer. Teremos que aguardar a sua chegada não é verdade?
Os benefícios do desafio continuam a ser os mesmos: Ler muito e livros que à partida pouco nos diriam. Os malefícios também se mantêm: a obrigatoriedade de ler em tão pouco tempo, e a obrigatoriedade de ter de ir aos CTT todos os meses entregar um novo livro. Mas é tão bom receber mensalmente um livro novo na caixa de correio que tudo isso se anula.
E o sétimo livro do Desafio do Livro Secreto foi O Código D'Avintes de Alice Vieira, José Jorge Letria, Luísa Beltrão, José Fanha, Mário Zambujal, Rosa Lobato de Faria e João Aguiar. Este livro escrito a sete mãos, onde cada autor tenta colocar em apuros o autor seguinte, é um livro muito divertido e cómico. Uma leitura leve para animar a alma da depressão do final do verão.
Tudo começa com um assassinato incomum cuja arma do crime é uma broa de Avintes. E quem é que é assassinado? Um elemento da R.A.I.V.A. - Resistência Activa contra Imbecis, Vândalos e outros Atrasados - por um membro da Conclave dos Cavaleiros Teutónicos da Nova Ordem que quer dominar o mundo e para tal necessita de uma mensagem que está dividida em três manuscritos com uma receita de batatas recheadas que pertenceu outrora a Maria Madalena.
Numa das operações da Conclave, o professor Isaías Pires - membro da R.A.I.V.A. - é raptado, drogado e consegue sair de si e ver mundo ao mesmo tempo que fala uma língua que ninguém entende e que julgam ser aramaico - falada na Palestina no tempo de Cristo.
Como podem ver é um livro com uma história doida, e se acrescentarmos à trama uma loira que é burra mas não tanto quanto aparenta ser com um apetite sexual voraz e diz "prontus", um anjo Gabriel que se vem a descobrir não ser tão anjo assim, e uma padeira de Avintes percebemos que a história tem tudo para nos arrancar umas boas gargalhadas à medida que as páginas avançam.
Podemos facilmente perceber que o livro é uma paródia ao O Código Da Vinci, e reconheci ainda paródias a outros livros sendo que o podemos classificar como uma verdadeira salada russa - portuguesa, aliás, e de Avintes - onde parece que cada capítulo inicia uma outra história tão diferente da anterior mas que no final todas as peças acabam por encaixar - umas mais que outras claro.
Nota-se claramente as sete mãos ao longo do livro e há por isso capítulos mais interessantes que outros, capítulos mais engraçados e outros bem mais aborrecidos. Há aqui claramente autores que brincam com as palavras com um humor natural e nota-se que outros não se sentem tão confortáveis com este estilo, isto acaba por desintegrar um pouco a história e até mesmo baralhar as ideias. Isso faz também com que a uma certa altura o livro se torne um pouco confuso.
Algo que senti muito no livro foi o estereotipo mulher ao longo dos diferentes capítulos. Apesar de não se saber que capítulo pertence a quem - ainda que quem conheça bem os autores acredito que seja capaz de adivinhar - percebe-se perfeitamente quando toca à descrição das ações da ninfomaníaca quem é que é homem e quem é que é mulher, e isso confesso chocou-me um pouco pela negativa.
Mas no geral foram uns momentos bem passados com este livro, e apesar de não ser um livro marcante lê-se muito bem e muito rapidamente porque é uma escrita que flui - na maioria dos capítulos - e por isso recomendo a leitura.
Quem é que já leu esta pérola desta terra à beira Douro plantada?