Em 2017 já tinha dado umas pinceladas sobre coisas que nunca nos contam sobre as viagens que fazemos, até porque normalmente os percalços que existem não superam o bem que as viagens nos fazem pelo que é fácil relativizar e esquecer.
Mas porque a vossa Mula gosta sempre de dar uma imagem abrangente de tudo, conta-vos o último percalço que aconteceu na última viagem que fiz a Málaga, no mês passado, que alguns de vocês acompanharam na nova conta de Instagram da Mula, que espero que já estejam a seguir - imaginem a vossa Mula com olhos à Gato das Botas a fazer beicinho!
Cheguei a Málaga de manhã, de avião, e o check in era apenas a partir das 15h00, para não andar feita caracol de mochila às costas até porque estava bastante calor - apanhamos temperaturas na ordem dos 20ºC - deixamos as malas num cacifo que encontramos na cidade e fomos fazer a nossa vida e partir à descoberta.
Ao final do dia, fomos buscar as nossas malas e fomos para o alojamento. Como éramos três e como não queríamos andar à noite na rua, porque tínhamos visto que as noites estavam bastante frias, acabei por reservar uma espécie de apartamento - na realidade era uma mini casinha térrea dentro de um condomínio fechado, no centro histórico, para podermos fazer refeições também no alojamento, tornando assim a viagem também menos dispendiosa, que isto de viajar é muito bonito mas gastamos muitas das vezes mais do que a conta, há que ter em atenção todos os pormenores.
Chegamos ao alojamento já passavam mais de duas horas desde que poderíamos fazer o check in. Abro a porta do alojamento e... o choque!
A tragédia, o drama, o horror: O alojamento não tinha sido limpo.
O cenário quando abrimos a porta foi um sofá-cama desfeito com os lençóis dos anteriores hóspedes, a cama de casal desfeita, com obviamente os lençóis utilizados, e as toalhas na casa de banho sujas também!
Primeiro, o pânico: E agora? Não tínhamos tido contacto com ninguém, a chave era deixada num cofrinho com código à porta do alojamento.
Segundo, a reação: Ligo para o proprietário. O número não estava disponível. Mando mensagem pelo Whatsapp com fotos, as mensagens não estão a ser entregues. Próximo passo? Procurar lençóis e toalhas lavadas no roupeiro. Nada! Ligo para o Booking para efetuar a reclamação e para que eles tentassem chegar ao contacto com o proprietário. Pediram-me 24 horas para resolver a situação pois também não o estavam a conseguir contactar.
Terceiro, a resignação: Não sabíamos como, ainda, mas teríamos de ali passar a noite. A vossa Mula não é de bloquear, pelo que tratou logo de resolver a situação e verifiquei que a máquina de levar do alojamento também era de secar pelo que colocou logo tudo a lavar, teríamos "só" de esperar 7 horas para termos toalhas e lençóis limpos. Entretanto também existiam produtos de limpeza pelo que tratei logo de desinfetar todo o alojamento, ainda que, deixem-me já vos dizer que os anteriores clientes eram extremamente limpos - ou limparam a casa antes de ir, não sei - porque se não fossem os lençóis e as tolhas eu não diria que por ali teria passado alguém. Estava tudo aparentemente impecável e nem um único cabelo no chão, mesmo na casa de banho - e pelo que percebi pela conta da Netflix que lá tinha ficado deixada, deveria de ser um casal com dois filhos.
Quarto, a maestria: De tanto andar às voltas na casa para acalmar o nervoso, percebi que a cama era um sommier, e chamou-me a atenção o facto de ter um aloquete. Na minha mente estava ali tudo, lençóis, toalhas, loiça... Sentei-me no chão e pus-me a rodar o código do aloquete, que definitivamente não era dos mais seguros que eu já tinha visto - até o meu fraquinho do ginásio tem mais qualidade que aquele. Ao rodar os primeiros números, devagarinho, senti uma espécie de vibração quando chegou ao número 6. Hmm.... Será? Passei para o segundo número, e voltei a sentir uma vibração quando chegou ao segundo 6, e uma terceira vibração quando chegou ao terceiro número 6. O aloquete abriu. A sério? O número da besta? Realmente senti que aquele proprietário era besta, fazia sentido. A minha intuição não me falhou, ali estava tudo, lençóis, toalhas, gel de banho, produtos de limpeza... Tudo o que poderiam imaginar. Já não precisava de esperar que a máquina acabasse de lavar e de secar. Fizemos as camas, deixei tudo direitinho, voltei a fechar o aloquete e aterramos no sofá.
Ao fim de algumas horas, após o alojamento estar limpo e imaculado, o proprietário finalmente responde às mensagem com um simples "Ya veo, hable con Booking para que le cancelen sin cargos". O quê? Depois do trabalho todo que tive queria que eu cancelasse a reserva? Claro que não! Liguei logo com o homem, disse-lhe que não ia cancelar porra nenhuma que já tinha limpo tudo, posto a máquina a lavar, que era de noite, que estava cansada e que dali já não saía. Ficou chocado por ter limpo tudo, e prontificou-se a levar logo lá lençóis e toalhas - que obviamente não lhe disse que lhe tinha assaltado o sommier. Pronto, foram lá umas pessoas entregar-me novos lençóis e toalhas que guardei direitinho no sommier, novamente, e prossegui com a minha vida. Prossegui, obviamente, na mesma com a reclamação do Booking - que indicou que como a situação fora resolvida que não haveria lugar a qualquer compensação - e reclamação do alojamento, apenas pela atitude.
O que me chateou verdadeiramente não foi o alojamento sem limpeza, porque já se sabe que nem todas as pessoas são confiáveis e aparentemente o que aconteceu foi que a pessoa da limpeza faltou e não avisou. O que me chateou foi alguém ter um negócio e estar-se a marimbar para ele, foi o facto do proprietário não estar contactável, apesar de saber que iria ter entrada de hóspedes. Foi terem-me garantido que iriam no dia seguinte fazer na mesma a limpeza deles - apesar de eu ter dito que não era necessário, mas eles terem insistido, ao que eu disse no meu melhor espanhol, "claro, muchas gracias!" - e ninguém mais lá ter ido. Achei a atitude miserável, pelo que sim, procedi com a reclamação pública no site do Booking, para além de que a casa era para 4 pessoas e tinha de se aguardar 1 hora entre banhos que a água da caldeira mal era suficiente para um só banho.
Mas prontos, a modos que percalços à parte, aproveitei imenso a viagem, molhei os pés na água do mar, estendi-me na areia, comi coisas boas e desconectei do meu anterior emprego para começar em grande e com disponibilidade espiritual e mental para o novo. Hoje olho para este percalço como uma história para contar aos netos, aos amigos e a vocês, porque já se sabe que uma vida rica, é uma vida cheia de histórias! À parte de tudo isto continuo a sentir Málaga como a minha casa, é incrível o quão bem eu me sinto nesta cidade que não perde o encanto, nem no Inverno! Se quiserem ver o que podem encontrar em Málaga, espreitem aqui.
Onde é que nós íamos mesmo? Antes de eu ficar doente depois ter levado com ela - com a vacina, pois claro! - e mais outras quantas avalanches no trabalho e de ter interrompido aqui a escrita no curral? Ah sim, há uns meses íamos em Málaga...
Hoje vou falar-vos de uma das melhores partes da viagem a Málaga: o Caminito del Rey.
O Caminito del Rey situa-se no Desfiladero de los Gaitanes, também conhecido por "Garganta de El Chorro" e já foi considerado um dos mais perigosos trilhos do mundo. Imaginem a minha alegria ao saber isto, eu cagufas como sou - toda eu vertigens e cenas várias do género - ainda que atualmente está reabilitado e é um trilho de cerca de 8km totalmente seguro, ainda que a cerca de 100m de altitude.
O percurso deste desfiladeiro foi construído, no início do seculo XX pela Sociedad Hidroeléctrica del Chorro aquando da construção dos reservatórios de suporte à central hidroelétrica que iria finalmente fornecer eletricidade aos habitantes da zona. Assim, para facilitar o acesso dos trabalhadores, foi iniciada a construção de diversas passagens nas paredes do Desfiladero. Tendo em conta o antigo cenário, nem quero imaginar a quantidade de pessoas que ali morreram... Mas adiante.
Apesar do percurso dos trabalhadores ser mais extenso, o Caminito del Rey diz apenas respeito à parte do percurso percorrido pelo Rei Afonso XIII no desfiladeiro para inaugurar a obra, em 1921. Apesar de perigoso, devido aos encantos da paisagem, o interesse por parte da população e viajantes no trilho aumentou - loucos! só loucos! -, pelo que entretanto foi tornado de acesso público.
Após 5 mortes entre 1999 e 2000 o trilho foi encerrado para remodelação, reabrindo em 2015 totalmente modernizado e seguro, com todas as medidas de controlo que garantem a pessoas como a Mula sentirem-se seguras em todo o percurso.
Como vêm o percurso está devidamente protegido para evitar acidentes.
Olhem aqui a vossa Mula toda pimpona... E devidamente protegida!
O percurso é todo ele incrível, digno de postais!
Mais uma da emplastra!
Não vos minto... Tem escadas... Muitas escadas - ainda assim não tantas quanto os Passadiços do Paiva, por isso não acho que seja um percurso muito difícil para fazer.
O percurso é simplesmente fantástico, de cortar a respiração e apesar de ser medrosa e de sentir um friozinho na barriga, à medida que as horas de realizar o percurso se aproximavam, a verdade é que iria novamente.
Algo de que tenho pena que o percurso não contemple, é a passagem pelo outro lado do trilho, pela linha de comboio que parece também ela incrível, cheia de túneis e encantos.
E é chegando a este ponto que o coração dói... E as pernas... É que achamos que já andamos muito, já estamos cansados e percebemos que afinal só andamos um pequeno pedaço do trilho! Confesso-vos que o percurso me pareceu muito maior do que na realidade é.
Digamos que não escolhi o melhor dia das férias para fazer o trilho... Estava imenso calor, mais do que esperado, e foi um dos dias mais quentes da estadia mas ainda assim estava agradável o suficiente.
Depois de lá estar, o percurso não é assim tão assustador. Primeiro, porque fomos em grupo, segundo, porque realmente o trilho tem um ar seguro - pode ser só ar, mas convenceu-me. Sem dúvida que é de passagem obrigatória a quem passar por Málaga, ou lá perto porque a paisagem é de arrepiar - também - no bom sentido.
Numa das partes finais do trilho passamos por uma cascata enorme cujo o vento fazia voar a água fazendo brilhar vários arco-íris incríveis. Nunca tinha visto algo assim.
Ainda deu para bronzear um pouco!
Esta é a ponte mais assustadora de todo o percurso. Com o vento que fazia voar a água da cascata, fazia também voar os nossos objetos pessoais e foi nos aconselhado guardarmos tudo o que levássemos na mão, óculos de sol, telemóveis,...
Vejam bem a violência com que a água "voa". Agora imaginem o vento que estava neste ponto do trilho.
Se me perguntarem quão cansativo é... Respondo-vos apenas que era suposto ir descansar para a praia, e fui direta - quase direta que ainda houve direito a Dunkin' Dounuts - para a cama!
Seja como for vale mesmo muito a pena. Já viram bem estas paisagens?
Uma opinião pessoal: Se fosse hoje, não voltaria a fazer a visita com guia. Se por um lado a história é muito interessante e temos uma outra perspetiva sobre o local, a verdade é que todo o percurso é feito a um ritmo muito mais acelerado. Eu ficava sempre para trás - não gente, não é só porque não tenho rasgo nas pernas, mas porque tiro muitas fotografias e gosto de apreciar o momento e a paisagem sem relógio - e estava constantemente a perder conexão com o aparelho por onde o guia nos contava a história. Para além do mais, a pausa para lanche não chegou nem a 10 minutos porque outro grupo chegou ao mesmo ponto que nós, pelo que foi tudo feito demasiado a correr e a Mula gosta de degustar devagar.
De qualquer das formas, confiem na Mula, com ou sem guia, façam este trilho. Para os mais medrosos, acreditem, se eu consegui, vocês também conseguem, só não pensem muito no assunto e depois de lá estarem não têm outra hipótese se não concluir que o trilho tem apenas um sentido - pelo menos agora com o covid.
Quem desse lado já teve o prazer de palmilhar o Caminito del Rey?
...essas férias que já parecem que foram há uma eternidade
Ora bem, onde é que nós íamos?
(Ignorando o facto de se terem passado entretanto 10 dias...)
Ah sim, Málaga!
Fui de férias para Málaga. E porquê Málaga? Basicamente porque recebi uma mensagem a dizer que "era giro fazer-mos o Caminito do Rey" e eu sem ter visto muito bem o que era o Caminito do Rey, disse como é meu costume: "Bora!" Depois, claramente, chorei no colo da mãe, no colo das amigas, fiz o testamento e entreguei as palavras-passes das minhas redes sociais a alguém de confiança porque comecei a acreditar que poderia não sair viva desta viagem - o que de certa forma, metaforicamente escrevendo, até não é mentira nenhuma, que eu morri várias vezes ao analisar a qualidade de pessoas que vivam naquela terra, if you know what i mean! - é que para quem não sabe, eu sofro de vertigens e então tenho de vos confessar que o Caminito do Rey foi uma das maiores loucuras que eu já cometi.
A verdade é que Málaga nunca tinha despertado muito a minha curiosidade e talvez por ir com tão baixas expectativas me tenha apaixonado tanto pela terra, como pelas pessoas, como pela comida, por tudo, ainda por cima depois das última férias em que quase quinei... Estava mesmo a precisar de umas férias assim!
Deixem-me dizer-vos que me apaixonei logo no avião, ainda no Porto, já que partilhei o meu lugar com um moço muito jeitoso simpático que trocou de lugar comigo para eu ir à janela, já que íamos só os dois. Afinal ainda se fazem cavalheiros nesta terra à beira mar plantada. Ainda estive para lhe pedir a mãozinha na descolagem, mas ele pareceu estar a sofrer mais do que eu e também não quis abusar da sorte já que teríamos de estar ali lado a lado durante pelo menos uma hora.
Dia 1
A viagem foi bastante rápida e assim que chegamos fomos a pé para o apartamento que alugamos. Biquínis na mala, almoçamos junto ao mar e zarpamos para a praia.
No porto de Málaga, que é uma espécie de galeria comercial ao ar livre, conhecida por Muelle Uno, existem várias opções para almoçar, jantar, lanchar, ou apenas beber uns cocktalis ao por-do-sol, e foi então aqui a nossa primeira refeição:
Muelle Uno
O Muelle Uno tem várias opções de restaurantes, desde fast food a healty food a regular food - tinha que ser tudo em food... - passando por lojas de roupa, perfumarias, gelatarias, tem de tudo um pouco, é um lugar muito agradável para passar uma tarde, quem prefira, a ir dar umas braçadas ao mar.
Escolhemos um restaurante com um menu completo de turista a preço aceitável: O Gorki. Entradas - um conjunto de tapas variadas e salada de folhas com queijo chévre, banana e tomate seco envolta em molho balsâmico - prato principal - uns canelonis de espinafres e ricota - e para finalizar o belo do petit gateau. Deixem-me só acrescentar que adorei a cerveja malagueña.
Refeição no Gorki
Refeição concluída... Energia refeita... Praia!
Bem vindos à la Malagueta!
A vossa Mula toda animada na Malagueta
Claro que uma praia com este nome teria de ter muito picante... E tinha... Ó se tinha! Água quente, areia ainda mais quente - queimei-me tanto nos pés... - vistas de arrepiar - em sentido lato e figurado - e foi incrível fazer praia em Outubro. Deu para repor muito do bronze que já se tinha apagado de Setembro.
Voltava para ali já hoje!
Dizia a meteorologia que as temperaturas rondavam os 25ºC mas a verdade é que a sensação térmica era muito diferente, e houveram alturas em que não se aguentava estar espalmada na toalha ao sol, tal que era o calor. Nunca saímos da praia muito cedo... Nunca apanhamos vento, ou chuva, ou frio,... Tudo fantástico... Tirando a areia negra que me estragou um biquini.
Depois da praia a rotina normal em período de férias: Banho, e ir para a cidade jantar. Ficamos sempre pelo centro histórico à noite, mas isso serão outros carnavais que já vos mostrarei tudo.
Despeço-me apenas com o jantar do primeiro dia para vos aguçar o apetite para logo:
Restaurante Pepa y Pepe - camarões grelhados com um molhinho que não sei de que era, mas era bom, cebola frita, batatas bravas e uma bela carne cujo animal me escapou mas que era muito boa e tenra (vitela provavelmente).
Se há coisa que me atrai na cultura espanhola é a forma como eles encaram as refeições: um momento de lazer e de partilha e por isso foi sempre possível degustar mais porque as refeições eram para duas pessoas e não apenas para mim. Infelizmente quando se faz esta tentativa em Portugal somos encarados pelos empregados como pobres, aqui a partilha é normal e encorajada. Por isso cada refeição foi um deleite de vários sabores e texturas!