Há uns tempos, estava num primeiro date quando, vindo do nada e sem que algo o fizesse prever, o moço pergunta se quero ser mãe. Deduzi que ele considerava a paternidade (ou a não paternidade) importante. Nada contra a pergunta, apesar de me parecer prematura, mas gosto de pessoas que sabem o que querem e que não queiram perder tempo com alguém cujos ideais não se conjuguem devidamente.
Respondo que sim, e devolvo a pergunta, já que a expressão se manteve imparcial.
Resposta: "Não sou contra."
Ele até pode estar no direito de não ser contra, mas eu também estou no meu direito de achar a reposta parva e perigosa.
Tento perceber o que aquele "não sou contra" significa realmente, e ele explica, e muito bem, que se estivesse com alguém que quisesse ter filhos que estava tudo bem, mas que se estivesse com alguém que não quisesse, que estava tudo bem na mesma.
Primeiro: Lá se foi a admiração pela capacidade de saber o que quer. Zero pontos. Segundo: não entendi, assim, a relevância da pergunta já que qualquer que fosse a minha resposta, estava perfeito.
Parece-me perigosa a leviandade com que tantas vezes se trata da questão da maternidade/paternidade, já que ter filhos não é bem o mesmo que comprar um bibelot que se pode doar, ou simplesmente deitar fora, quando não mais nos enche a vista. Pode parecer exagerado e até generalizado dizer que associo estas pessoas, às mesmas que saem para comprar tabaco e que nunca mais regressam, deixando mulheres e filhos para trás, mas é-me impossível não fazer esta associação.
Ser pai ou ser mãe, é algo que é para a vida e que além de uma enorme dedicação, implica ainda uma disponibilidade financeira que nos dias de hoje é complicada. Se antigamente se podia aplicar a velha expressão de onde comem dois, comem três, nos dias que correm já não é bem assim e por isso ser-se neutro num tema que pede tudo menos neutralidade parece-me, no mínimo, perigoso. Senti-me a debater uma qualquer questão banal, ao estilo:
- Preferes sushi ou italiano?
- Escolhe tu, é-me indiferente.
- Mas gostas de sushi?
- Não desgosto.
- Mas preferes pizza?
- Gosto, como gosto de sushi.
NÃO! Este não é um tema que pode ser discutido como quem discute a compra de um par de calças da Primark, mas a ser assim justifica muita coisa, sinceramente.
Eu quero ser mãe, sempre quis, mas não por uma questão social. É por mim. Apesar disso, e porque não é por uma questão social, não fico chocada com pessoas que não querem ser pais (e por pais, entenda-se pais e mães). Tem de ser uma escolha pessoal de cada um dos indivíduos sem interferência ou pressão externa. Seja qual for a decisão, logo que tomada com consciência, parece-me uma boa decisão (vá, ser pai/mãe nos tempos que correm não é assim tão boa decisão, mas acho que entendem o que quero dizer) mas uma não decisão, uma posição tão neutra e permeável para mim é totalmente inaceitável nos dias que correm, e atenção que aceito alguém que me diga "quero ser pai, mas aceito abdicar de o ser se estiver com alguém que não queira ou não possa ser", mas não consigo aceitar o "não quero ser pai, mas se a pessoa que estiver comigo quiser ser mãe eu faço o jeito e o favor". Não, ser mãe ou ser pai é muito mais do que dar o jeitinho ao senhor que está parado no STOP para passar, ou ceder o lugar no metro a alguém de idade, quando na realidade até preferíamos ir refastelados com os nossos pensamentos.
Dizem-me com frequência que eu tenho dar hipóteses a pessoas que não sejam, aparentemente, o que procuro, que tenho de baixar as expectativas, que até me posso surpreender... Eu cá acho que já bati no fundo e realmente foi uma enorme surpresa. Obrigada pelas dicas!
Já estive tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Quando penso nisto sinto-me tão vazia... Tão estranhamente vazia... Mas quis o destino não me proporcionar, até à data, este cumprimento deste desejo. Talvez alguém superior anteveja que eu vá ser uma péssima mãe... Alguém que goste tanto de dormir e de sossego, como eu, pode não conseguir ser uma boa mãe. Posso não conseguir ser uma boa mãe. Mas a verdade é que posso nem nunca vir a descobrir.
Para além do relógio que não para - já caminho a passos largos para os 34 -, estou mais solteira que uma árvore esquecida no meio do deserto, e o pior de tudo é que a saúde não está na melhor fase, como já disse algures por aqui. Umas complicações surgiram... E ao que parece sofro de endometriose no ovário, que é só uma das principais causas de infertilidade na Mulher... Só! Aparentemente é só no ovário direito, mas a verdade é que não me adiantaram grandes informações e dizem que tenho de repetir o exame daqui a uns meses... E só depois ver o que se pode fazer... E até lá...
Já chorei, já me apeteceu gritar, já me apeteceu atirar abaixo de uma ponte - calma, é só uma forma de expressão - já me apeteceu largar tudo para trás das costas e recomeçar do zero longe daqui - como se resolvesse alguma coisa - mas agora só... resignei-me! Resignei-me. Que me adianta tentar lutar contra o tempo? Que me trouxe este desespero, ao longo do tempo? Nada... Nada de nada...
Hoje não me apetece gritar mais... Apesar das lágrimas caírem sem grande controlo. Dizem que tenho de aprender a aceitar mais. Talvez tenham razão. Dizem que posso tentar engravidar por aí, assim à maluca, como se doenças e outros problemas não fossem reais, que posso tentar de forma médicamente assistida ou até mesmo adotar, mas à parte disso, parece-me importante referir que quando falo que quero ser mãe, não me refiro só ao ato de ser mãe... De abrir as pernas e parir uma criança - perdoem-me a imagem - mas sim ao facto de querer uma família! Gostava de ter um filho com um lar como sinto que nunca tive: com amor, estabilidade, segurança, ...
... Mas parece que o meu lar seguro, com amor, estabilidade e segurança será uma conta muito fácil de fazer: Uma Mula e um montão de gatos fofos para substituir o vazio de algo mais...
Hoje sinto que estou pouco resignada... Sinto-me até mais condenada do que resignada... Mas... Amanhã será um dia melhor!
... Que não faço ideia do que estou a dizer porque não sou mãe mas...
Hoje em dia não se protegerá demasiado as crianças?
Há vacinas para tudo e mais alguma coisa. A criança espirra e já se está a criar uma vacina nova. A criança ganha uma borbulha e é outra vacina. A criança cai, e no futuro o melhor é ficar em casa. Há mulheres que engravidam que vão a correr a entregar os cães e gatos no canil mais próximo. A criança sai à rua tem de ir com milhões de casacos no lombo.
Não estaremos a exagerar? Não estaremos com tudo isto a criar crianças cada vez mais frágeis?
Aprendi que é a conviver com os problemas que se cria imunidade. Comi terra e areia. Chorei em plenos pulmões, fui trancada em quartos para a mãe não me ouvir, e sou uma pessoa saudável. Hoje parece que a criança não pode chorar que se vai logo a correr. A criança não pode espirrar que se vai a correr para os hospitais. A criança não pode fazer nada porque a criança hoje em dia é criada numa redoma de vidro...
Se um dia quando for mãe vou perceber esta histeria e vou passar a ser assim?
Não vou estar aqui com rodeios, sim, muito provavelmente assim serei, como qualquer mãe viverei num pânico constante, numa ansiedade louca quase patética, mas deixem-me este momento de lucidez enquanto assim não sou.
Hoje, dia 10 de Outubro, é o Dia Mundial da Saúde Mental e como aqui a Mula não fala só de baboseiras, até porque a Mula também sabe umas coisinhas interessantes, vou-vos falar de um assunto muito sério, que afecta 10 a 20% das mulheres em todo o mundo, a depressão pós-parto (DPP).
Diz-se no senso comum, que a depressão é um problema da classe média-alta, que por ausência de preocupações reais, deprime. Diz-se ainda por esses autocarros fora, que quem tem de trabalhar todos os dias de sol a sol, não tem tempo para ter depressões. A verdade é que se diz muita coisa, porque infelizmente as pessoas podem dizer o que bem quiserem, mesmo quando não fazem ideia das parvoíces que saem boca fora. Digam o que disserem, a depressão, com todos os seus contornos, é uma doença em crescimento que afecta milhões de pessoas em todo o mundo e que pode ter as mais variadas origens.
Como sabem, eu escrevo muito, e como tal, se eu fosse a escrever sobre a depressão de uma forma mais abrangente não sairíamos daqui. Decidi por isso, e numa altura que o meu relógio biológico berra, focar-me só e apenas na DPP, que foi uma das minhas grandes "especialidades" no segundo e terceiro ano da faculdade.
Por isso preparem-se, e se estiverem com pressa, o melhor é nem começarem a ler... espera-vos um longo texto informativo.