Da saga: O universo sabe o que faz...
Confia: Nada acontece por acaso!
Relembro-vos que os meus cartões de multibanco foram, estranhamente, parar à minha antiga casa. Morada atualizada, tudo nos conformes, e ainda assim os meus cartões foram parar à minha antiga casa. Na altura não entendi o que o universo me queria dizer, com tantos sinais, já me começava a desesperar um pouco. O universo estava a dar sinais claros de que tinha uma mensagem para mim, mas eu meia surda, meia cega, não entendia o que me dizia ele.
Tudo a seu tempo, dizem. Logo eu que gosto pouco de esperar... Mas porque quem espera não só desespera mas também alcança, eis que finalmente entendi o que o universo me reservava.
O Mulo não tinha apenas os meus cartões de multibanco, o Mulo tinha também um papel de elevada importância na minha vida profissional.
Devido aos cartões, conversa para aqui, conversa para ali, eis que atiro assim para o ar, sem qualquer tipo de expectativa ou esperança, foi só e apenas em tom de desabafo, que caso ele soubesse de alguém que precisasse de uma competente e empenhada administrativa para falar comigo, que eu procurava mudar de emprego. Contei-lhe o que se estava a passar. Expliquei-lhe que a cada dia que passava me custava mais olhar para a cara daquela pessoa, falar com aquela pessoa, trabalhar com aquela pessoa. Por muito que o meu trabalho não fosse diretamente com ele, muito do meu trabalho era com ele e estava cada vez a tornar-se mais insuportável ali trabalhar.
Quem me conhece sabe, quando uma pessoa me desrespeita eu não consigo voltar confiar. Digo isto, porque a atitude dele até mudou comigo - provavelmente por ter ido falar com o meu CEO - mas nem assim consegui confiar. Sabem a velha máxima de que quando as crianças estão demasiado sossegadas estão a fazer asneira? Era exatamente a isso que me cheirava... Ele andava demasiado sossegado, com demasiados elogios, demasiado manso, mas para mim estava a preparar algo muito maior, muito pior. Sou desconfiada por natureza, não consigo ser diferente. Então disse para mim: "vou-me adiantar ao que poderá vir dali...". Não sei se, efetivamente, viria dali alguma coisa, mas também, sinceramente, não quis saber.
Tudo isto para vos dizer que desabafei com o Mulo, confesso que desde que nos afastamos que sinto a falta dele, ele era o meu melhor amigo e a pessoa mais racional que eu conheço - esse foi o mal, no fundo - e faz-me falta tantas vezes falar com alguém com os pés bem assentes na terra. Por isso desabafei, e ele ouviu-me, e enviou o meu currículo para uma empresa de recrutamento e numa semana consegui uma entrevista com alguém responsável pela fase inicial para uma grande empresa internacional e iniciei assim um longo e complexo processo de recrutamento. Feita a entrevista inicial, tive outras fases de entrevista diretamente com a empresa onde iria trabalhar, primeiro com o diretor da empresa, depois com os RH e finalmente com a chefe de departamento.
Sabem quando entram num sítio e se sentem em casa? Foi assim que me senti no primeiro dia, na primeira entrevista que tive presencialmente. Senti-me bem, senti que ali era o meu lugar, e por isso quando no próprio dia recebo uma outra proposta de trabalho - muito, mas mesmo muito bem paga! - em que queriam que eu começasse imediatamente eu recusei! Se eu sabia se iria ficar? Não, claro que não, até porque a pessoa que me entrevistou inicialmente - a quem o Mulo me recomendou - nada mais tinha que ver com o processo de recrutamento. Mas soube a partir daquele momento que se o universo tinha mandado os meus cartões para a morada errada para eu chegar até ali que não tinha sido à toa!
Se sou maluca? Talvez seja um pouco, mas com isto aprendi que é preciso confiar! A outra oferta, por muito que fosse muito mais bem paga, não me iria fazer feliz, não era o que eu queria e por muito que me permitisse elevado crescimento pessoal e profissional, não era o que eu queria fazer, e eu sentia que o meu caminho não era por ali. Ainda pensei "e se..." mas a partir do momento em que deixei de dormir porque só de pensar em aceitar me causava elevada ansiedade... Sabia que o meu caminho que não era por ali e que eu já tinha encontrado o meu caminho, era só esperar, e caso não fosse por ali o meu caminho, algum igualmente bom estaria certamente à minha espera.
O processo foi moroso. Passaram-se semanas, a cada semana que passava sem resposta era um pedaço da esperança que se desvanecia, mas eu continuava a achar que nada tinha sido à toa. Que tudo acontece por um motivo, e que se nunca tinha acreditado em coincidências que também não seria a partir daquele momento.
E foi assim que a meio de Janeiro eu recebi a boa notícia de que iria começar nessa nova empresa em Fevereiro! Não imaginam a felicidade!
Eu fiz all in, eu confiei, eu consegui!
Estas últimas semanas foram uma loucura. Despedir-me foi intenso, eu sabia que gostavam de mim mas não tinha noção do quanto e do impacto que a minha despedia iria ter na maioria das pessoas. Passar todo o trabalho em meia dúzia de dias foi complicado mas fez-se, em contra relógio mas fez-se! E quando saí dali... Foi como se tivesse perdido 20kg!
E pensar que se os meus cartões de multibanco não tivessem ido parar à minha antiga casa que nada disto teria acontecido... Acham que devo ligar para o banco a agradecer o engano?