Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Livro: O Prisioneiro do Céu de Carlos Ruiz Zafón

Depois de me ter apaixonado pel'A Sombra do Vento - um dos melhores livros alguma vez lido - e de ter devorado O Jogo do Anjo, chegou a vez d'O Prisioneiro do Céu, numa altura em que O Labirinto dos Espíritos já está na mesinha de centro a bater pé enquanto me pergunta, nada baixinho, se vou demorar muito até o devorar com todas as unhas e dentes que me for possível. Está quase, digo-lhe eu. Esta semana é a hora! Me aguarde, Labirinto, me aguarde!

 

 

Disseram-me para não ter grandes expectativas face a este livro. Então eu peguei nele de mansinho e desconfiada... Mas se n'A Sombra do Vento demorei umas 40 páginas até me emaranhar, e se n'O Jogo do Anjo só lá para meio do livro é que me captou verdadeiramente a atenção, este, curiosamente, considerado por muitos um dos piores livros da saga - não confirmo nem desminto - captou-me a atenção desde a primeira página. Talvez por saudades do Fermín e do Daniel, porque, realmente, o livro é bastante diferente dos dois primeiros. Mas, e apesar da história ligeira, pouco mórbida e surpreendente, gostei bastante, talvez por o ter lido numa altura em que sei que há mais páginas à minha espera, que é só um até amanhã. Confesso que se achasse que este era o último livro da saga me teria enervado um pouquinho com o fim, que me saberia muito a pouco, mas imagino que O Labirinto dos Espíritos, tenha as respostas para as perguntas que tenho acerca do Fermín, do Daniel, do Valls e do David Martim! Mas bem, para quem não leu ainda, vamos ao que interessa.

 

O Prisioneiro do Céu conta a história de como Fermín chegou até Daniel e de como a história de amizade entre estes dois foi pouco aleatória, apesar do que nos leva a crer no primeiro livro. Numa altura em que Fermín está prestes a casar-se com Bernarda, está na hora de enfrentar alguns demónios uma vez que a sua identidade não existe, e é necessária para os papéis do registo. Assim, Fermín decide contar toda a sua história a Daniel que o ouve com atenção e o decide ajudar a encontrar nova identidade. O Prisioneiro do Céu é um livro que une a saga, é um livro que une Fermín e Daniel - d'A Sombra do Vento - a Martim e Isabella - d'O Jogo do Anjo. Com pouco suspense, passamos a conhecer melhor Daniel, pela narração de Fermín. É um livro que do ponto de vista descritivo da realidade da época, nos revolta, uma vez que uma parte da história nos é contada na altura da Guerra Civil Espanhola, onde nos é relatado muitas das atrocidades que ocorriam nas catacumbas do governo, também chamadas de prisões, onde criminosos e inocentes - provavelmente mais inocentes que criminosos - permaneciam para cumprir penas que ninguém compreendia em condições abaixo de miseráveis.

 

O Prisioneiro do Céu é, do meu ponto de vista obviamente, um livro que atiça o ódio nos leitores apaixonados por Sempere e Filhos. Quando criamos empatia com um personagem, não queremos que nada lhes aconteça e neste livro vemos como a história de Daniel foi reescrita por quem não devia e é impossível não ficarmos revoltados com isso.

 

Aviso à navegação: O próximo parágrafo contém spoilers d'O Jogo do Anjo

 

Este livro vem desmentir algumas premissas d'O Jogo do Anjo. Quem leu sabe que o autor nos deu a entender do sobrenatural associado a Martim e a Corelli, quem leu sabe que Corelli representava a figura do diabo e que Martim jurava a pés juntos que ele existia. Pois que n'O Prisioneiro do Céu percebemos que afinal não é bem assim, e confesso que fiquei com vontade de reler todo O Jogo do Anjo para encontrar erros, e a verdade é que mesmo sem ler, fiquei com algumas dúvidas da suposta inexistência de Corelli tendo em conta a morte da Cristina, que de certa forma, atestava a sua existência. Aliás, não compreendo como Cristina nunca tenha sido referida n'O Prisioneiro do Céu, uma vez que o verdadeiro final dela, ficou meio em aberto no outro livro. Propositado? Falha? Encontrarei as respostas n'O Labirinto dos Espíritos? Vou aguardar para ver.

 

A verdade é que adorei este livro apesar de ser diferente dos seus "irmãos", não o achei uma perda de tempo, bem pelo contrário, e foi bom reencontrar o desbocado Fermín e o jovem Daniel. Fico-me só a perguntar, onde andará Caráx...  Às vezes, acho que me esqueço que eles não existem realmente...

 

Estou muito ansiosa pelo início d'O Labirinto dos Espíritos!

 

Boas leituras!

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.