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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Trabalhar numa área de homens...

Falava no outro dia em igualdade de género, em como achava que mulheres e homens são tão diferentes que não poderiam ser considerados iguais, porque efetivamente não o são. Falava da perigosidade da expressão. Uns concordaram, outros nem tanto, compreendo as várias opiniões.

 

No entanto nunca neguei em todo o texto que ainda existe discriminação, não neguei que existem pré-conceitos, preconceitos e estereótipos associados aos dois géneros, mas acredito piamente que as mulheres não sejam as únicas alvo de discriminação.

 

Escrevia num comentário dessa publicação que se é esperado que a mulher seja dona de casa dedicada, boa mãe e excelente cozinheira, que também é esperado que o homem seja um líder, um bom gestor, um exemplo de força e proteção. Quando assim não o é, acho que a sociedade cai em cima dos dois. Porque existe necessidade de apontar sempre o dedo a alguém, seja esse alguém homem ou mulher. Exemplificando: Em Portugal ainda existe a mentalidade que em casa quem tem de vestir as calças é o homem, e se for a mulher? A mulher não é descriminada, é antes de tudo admirada, colocada lá no alto "uma grande mulher, de personalidade forte" diz o povo, o homem é que o coitadinho "é um conas!" dizem. Por que é que um homem tem de ser um conas por a mulher gerir as finanças? Pois não entendo.

 

Mas não nego. As mulheres ainda são alvo de muita discriminação e isso revolta-me. Aliás eu sinto-me diariamente discriminada por trabalhar num meio que é habitualmente ocupado por homens. Mas acredito, que um homem também seja descriminado por trabalhar num mundo de mulheres. Não? Homens que me lêem e que trabalhem num mundo de mulheres, nunca sofreram discriminação?

 

Mas agora falando do meu caso em específico...

 

Não, eu não trabalho numa profissão de homem, trabalho numa profissão que tanto é ocupado por homens como por mulheres - apesar de sermos todas mulheres, tirando um moço que ali caiu recentemente de paraquedas - porque como diz uma colega, depois de entrar no ritmo até o Gervásio conseguiria executar a função na perfeição - por ser rotineiro - mas trabalho numa área de homens, numa área em que os homens não aceitam que as mulheres podem fazer parte: na área automóvel.

 

Soubessem vocês a quantidade de homens que se recusam a falar comigo porque eu sou mulher e não percebo nada disto... Por isso adoro quando estes mesmos homens se acham superiores mas depois não sabem responder a metade das questões que faço sobre os veículos que têm... E gaguejam! Adoro vê-los a gaguejar! É que eles podem estar descansados que eu não vou executar nada nos veículos, porque provavelmente abrindo o capot não distingo o motor da caixa do filtro do habitáculo, mas não me interessa conhecer a prática, porque a teoria é suficiente. E as pessoas - essencialmente os homens - deveriam de ter noção de que se ali trabalho é porque conheço o meu trabalho.

 

Não, eu realmente não percebo muito de carros, nem gosto propriamente de conduzir, mas nem por isso deixo de executar as minhas funções devidamente, até porque tive formação para a função, tenho ferramentas que me capacitam e me auxiliam nas minhas tarefas diárias, mas ainda assim temos pessoas que se recusam a falar connosco, porque acreditam mesmo que lhes vamos dar respostas erradas. É curioso quando nos pedem um contacto de um cliente difícil e é o moço que liga: todo um lobo perde a pele e se torna num cordeiro, sem arrogâncias, sem superioridades, porque falam de macho para macho. Isto confesso, revolta-me as entranhas.

 

E querem rir-se comigo? É que se eu não percebo nada de carros, o moço é duplamente mais ignorante que eu no que toca a este meio - mas os clientes acreditam mais nele do que em mim -, mas ainda assim conseguimos os dois executar devidamente o nosso trabalho. Mas confesso neste ponto dou por mim a ter pensamentos preconceituosos:

 

"Bolas é homem e não sabe isto que é tão básico?"*

 

Mas confesso que está tão enraizado na cultura o que é suposto um homem saber/gostar ou não, que dou tantas vezes por mim a cometer esse erro, por isso como podemos pedir a toda uma sociedade com pessoas de tantas idades que esqueçam simplesmente tudo o que apreenderam e enraizaram até aos dias de hoje? Não se pode... Só se lhe pode pedir que seja uma sociedade mais compreensiva. Por isso eu ultrapasso sempre que possível o meu preconceito e sou compreensiva com os outros, e só desejo que os outros partilhem dessa compreensão comigo.

 

Acho que ainda estamos a anos-luz dessa compreensão devida, mas acho que para lá caminhamos.

 

 

*Bolas Mula, 10 Avés-Marias e 5 Pais Nossos e 20 chibatadas para aprenderes a não ter esses pensamentos.

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.