Um mês!
O balanço do novo trabalho
O tempo não anda... O tempo voa! E assim, mesmo sem eu dar por isso, passou-se um mês!
imagem retirada daqui
Este é um trabalho completamente fora da minha zona de conforto e por isso já passei por vários estados de espírito: Já quis fugir e senti-me arrependida de ter aceite, mas neste momento estou a gostar e estou a abraçar com os dois braços o desafio.
Quando me contrataram, porque não me deram grandes informações da função, fiquei convencida que tinha o perfil que procuravam. Entrevistaram-me tendo por base as minhas qualidades e defeitos - foi das entrevistas mais estranhamente boas que tive - e a minha entrevista teve por base a minha forma de estar na vida e de me relacionar com os outros, e não tendo por base as minhas qualificações e competências. Queriam alguém que pudesse dar ânimo à empresa, alguém positivo que pudesse influenciar de forma positiva os outros. E sem dúvida que me enquadrei no perfil, ou não fosse eu formada em educação social com uma boa formação em pessoas e que toda a vida trabalhou com e para pessoas. Sou uma pessoa positiva, com um sorriso sempre pronto, apesar da minha paciência não ser proporcional ao meu sorriso, consigo passar uma mensagem de tranquilidade. Até aqui tudo me parecia certo.
Entretanto começou a formação. A primeira semana começou muito bem, estava super animada, as pessoas eram simpáticas, ainda que com alguns quês que exigiam algum tato e sensibilidade - nada que não me tivessem avisado. Mas depois começou a parte mais prática da função e aqui foi quando pensei em comprar uma viagem para o destino mais longínquo - preferencialmente covid free -, mudar de nome e de número de telefone e cancelar todo o correio para a minha morada. Quis fugir porque comecei a achar que não iria ser capaz, é um trabalho, que à parte das pessoas, exige muito de uma área que não domino e comecei a acreditar que não era de mim que a empresa precisava. Quiçá necessitariam de uma contabilista ou de alguém ligado à gestão. Alguém das matemáticas - que tanto me assustam -, vá. Não uma pessoa que trata os números por você, mantendo o devido distanciamento de segurança. Entrei em desespero. Já tinha cancelado o subsídio de desemprego já não havia volta a dar. No máximo, teria de ter uma conversa profunda sobre estados de alma e mostrar por a+b - esta pequena fórmula ainda a sei utilizar - que não tinha as competências necessárias para o exercício pleno das funções, já que a empresa também não tem ferramentas que me permitissem simplificar. Digamos que um programa de faturação era o suficiente para me ter tranquilizado um pouco mais a alma, mas é tudo à lá pata, número por número, e sabem que a Mula não tem mãos... Tem cascos.
Tentei manter uma calma aparente. "Vão-me dar formação... e tu não és burra nenhuma!", pensei. Confesso que a autoconfiança é algo que preciso de trabalhar, dou por mim a desacreditar-me, dou pelos outros a acreditar mais nas minhas capacidades do que eu.
Antes de ter formação deram-me uns quantos ficheiros para eu analisar e ficar por dentro da coisa. Só me apetecia chorar! Estar em português, árabe ou russo era exatamente a mesma coisa. Nem reconheci a língua. Aqui confesso que o meu desespero de antemão também já me tinha colocado umas quantas palas. Mas eu sou Mula, não sou égua, não deveria de usar palas. Fechei o ficheiro e abri o ficheiro num número incontável de vezes. Insisti. Parei, respirei, pirei, despirei e voltei a tentar olhar com olhos de ver. Eis que aos poucos e de papel e caneta ao lado comecei a perceber. Quando fui para formação em sala aqueles números, siglas e caracteres estranhos já não eram tão estranhos e após ter estado mais de 6 horas a fazer cálculos e mais cálculos, com apoio, finalmente fez-se luz. Não entendia os ficheiros porque os ficheiros não foram propriamente criados para serem entendidos. Eis que decidi recriar os ficheiros existentes, e os cálculos - que anteriormente me pareciam impossíveis de aplicar no dia-a-dia, se tornaram bastante mais simples.
Eu, que achava que não ia conseguir, estou a ajudar a empresa a ter um método mais simples, talvez por também eu ter uma visão mais simples dos cálculos. Dizem que quem percebe muito tem mais dificuldades em passar a informação aos outros porque não sabe sintetizar, talvez tenham razão, talvez por eu não dominar a matéria tenha criado algo mais simples para também eu perceber. E não posso negar, estou animada. Claro que ainda tenho muita coisa para aprender, e há muitas dinâmicas que ainda não entendo mas estou a criar, estou a desafiar-me porque estou a fazer coisas que achava que não sabia e com as quais achava que não iria saber. O excel aqui é uma ferramenta muito importante que eu tinha alguns conhecimentos mas que não tantos quanto gostaria, mas até aqui estou a desenvolver-me. Em tempos fiz uma formação de excel avançado, mas como não utilizava no dia-a-dia a maioria daquelas funções existiu muita informação que não absorvi, mas como passei a saber que existia e que dava para fazer, o resto, o google e a exploração livre, torna possível.
E é isto, sinto ainda que sou uma ervilha bem verde neste meio, mas que me estou a desenvolver positivamente e claro, estou super animada. Vejo e falo diariamente com muita gente diferente e é um trabalho que apesar de ter uma componente muito grande de cálculos e de focar-me num ecrã que os meus olhos tendem a desfocar, a verdade é que também tem uma componente muito grande de humanismo, com pessoas. E é assim que uma Mula cai de paraquedas num departamento financeiro de uma empresa do ramo imobiliário, por terem acreditado em mim, sem que eu mesma acreditasse, e isso é bom. Estou feliz e a parte boa é que parecem felizes comigo. Acho que vou ter aqui uma grande escola e vocês sabem que eu adoro aprender.