Uma questão de criatividade...
... ou de falta dela!
Admiro aqueles que conseguem a partir de nada criarem coisas fantásticas. Admiro aqueles que, passando a expressão, conseguem fazer omeletas sem ovos. Acho incrível num mundo onde tudo já foi dito, onde tudo já foi feito, que alguém puxe pela sua criatividade e consiga fazer diferente. Admiro até, aqueles que a partir do que já existe, conseguem inovar e trazer algo novo, ainda que o conceito possa não ser efetivamente novo.
Por outro lado, não compreendo aqueles que absorvem a criatividade dos outros e a tomam para si. Há dias em que sinto raiva, confesso, dessas gentes que querem a todo o custo algo que não lhes pertence, roubando o que é dos outros, de uma maneira ou de outra. A forma de vestir, a forma de escrever, a forma de falar, a forma até de andar. Roubam atitudes, roubam ideias e ideais e formas de ser e ver o mundo.
Mas na maioria dos dias, tenho apenas pena dessas gentes. E acreditem pena é no fundo um sentimento muito mais triste que a raiva, porque a raiva faz-nos andar, a pena faz-nos apenas desvalorizar, e com essa desvalorização, a crescente desacreditação das pessoas. Consigo quase elevar aquele que se aproveita sucessivamente, repetidamente, e nada cautelosamente da criatividade dos outros, para si - não digo plágio, porque não tem de o ser efetivamente, e por criatividade entenda-se originalidade, fazer diferente, fazer porque se lembrou e não porque viu o outro fazer e correu bem, - como que a alguém mentalmente diminuído. Só que o mentalmente diminuído tem o meu respeito e todo o meu apoio, nasceu assim, ou ficou assim, não há muito que se possa fazer. Aquele que absorve para si o que é dos outros, tem apenas o meu desprezo: coitado, não consegue melhor. E passo a ver essas gentes não como gentes, mas como coitados. Como pobres coitados.
Tenho pena e revolta, daqueles negócios originais, os pioneiros, que são derrubados pelas suas cópias. Lembro-me da primeira barbearia retro que vi no Porto, achei uma ideia fantástica. Agora já são quase todas assim, já não há originalidade, há apenas tantos iguais, não há diferenciação. Achei genial alguém ter-se lembrado de pegar em comida fast food, como os hambúrgueres que toda a gente adora das grandes cadeias, e torná-los mais caseiros, bonitos e deliciosos com sabor a carne. Agora é porta sim, porta sim. É tudo igual. Onde pára a imaginação? Atentem nos logótipos até destas novas lojas gourmet, e locais retro. Tinha um colega que dizia que achava que era a mesma empresa a fazê-los: o mesmo tipo de letra, o mesmo tipo de esquema, o mesmo, o mesmo, o mesmo... Não há diferenciação assim. É tudo igual. Para mim isso perde o encanto, perde o quê de especial.
Não consigo compreender ou aceitar estes comportamentos. Esforço-me. Mas não consigo compreender ou aceitar estes comportamentos. Efetivamente, preferia não ter nada, a ter o que é dos outros, a ter o que os outros criaram, a escrever igual ao que os outros escreveram, a fazer igual ao que os outros fizeram, a transformar-me nos outros em busca de algo que não sei o que é, mas que certamente não seria meu, nem para mim.
Prefiro fazer algo fraco, fraquinho, feio, horrendo, mas ser feito por mim. Para fazer igual, para quê fazer? E atenção que sou a favor da concorrência, mas ser concorrente implica acrescentar algo, fazer melhor ou tentar fazer melhor.
Tanto na vida, como nos blogs, não me dói na alma os desinspirados, desinspirada tenho eu sido quase diariamente. Dói-me na alma os que sem criatividade para mais, acham que podem tirar de mansinho o que é dos outros na esperança que ninguém perceba o crime cometido. E como disse um dia Albert Einstein: "O segredo da criatividade é saber como esconder as fontes" mas são poucas as pessoas que sabem efetivamente esconder as fontes.
P.S: Não falo de nenhuma situação em particular, falo no geral, sobre a vida, sobre o estado das coisas e de estados de espírito. Hoje acordei particularmente enervada.